Para Jorge Bichuetti, com o passar dos anos, as pessoas adquirem muita ternura, serenidade e sabedoria
Ao contrário da cultura oriental, onde os mais velhos são vistos como sábios e referências pelo conhecimento que têm da vida, o outro lado do mundo mantém o preconceito em relação às pessoas da terceira idade. Se estas possuem algum transtorno mental, são ainda mais desvalorizadas e esquecidas. O assunto foi tema de palestra que marcou o segundo dia da Semana Especial do Idoso, realizada no Recanto Hotel Geriátrico, com série de palestras voltadas a cuidadores, internos, estudantes e comunidade. Para o psiquiatra e coordenador clínico do Centro de Atenção Psicossocial Maria Boneca, Jorge Bichuetti, nossa cultura privilegia o ser humano em idade produtiva, agregando valor à sua capacidade de ser útil através do trabalho que exerce na sociedade, quando na verdade não deveria ser assim. “Com o passar dos anos, vamos adquirindo muita ternura, serenidade e sabedoria. Só que estas qualidades não são reconhecidas como qualidades e os idosos são deixados de lado”, destaca. Essa forma de ver a velhice acaba, portanto, causando medo nas pessoas. “Muitas vezes porque queremos dominar esta fase da vida e esquecemos de aprender a amar também nossas limitações. A existência é breve e não vale a pena a ilusão”. Entre os principais problemas sentidos por quem cuida de um idoso está a dificuldade de entendê-lo e lhe proporcionar a calma. Por isso, o psiquiatra recomenda que tratá-lo com carinho, amor e diálogo, criando vínculos de ternura, é fundamental. “Qualquer pessoa agride quando sente que está sendo uma cruz para o outro. Para não ferir o outro que cuida, tenta afastá-lo, agredindo. A dificuldade não está no idoso, mas no jovem que não entende o olhar triste e o coração. É muito bom perguntar ao idoso o que ele pode e o que ele não pode”, explica Bichuetti. O psiquiatra explica que idosos que sofrem de transtornos mentais, como a doença de Alzheimer, têm dificuldades, mas não deixam de sentir afetividade. “O paciente de Alzheimer, mesmo não reconhecendo as pessoas, tem sentimentos dentro dele. Avaliamos o que a pessoa sente com o retorno que ela nos dá. A morte dos seus neurônios não permite a esse tipo de enfermo que nos dê respostas, mas não há dúvidas de que, pelo nosso olhar, pela nossa expressão e com o nosso carinho, o pacientes se sente amparado e protegido”. Bichuetti destaca que nossa cultura é muito restrita à presença da palavra, por isso surgem angústias quando não há diálogo através dela. “Estamos acostumados a achar que a palavra tem poder mágico. Carinho tem potência de tocar o outro e ele se sente acolhido”.
A Semana do Idoso continua até o dia 2 de outubro no Recanto Geriátrico. Hoje, Dia Internacional do Idoso, o tema da palestra busca trazer elucidar dúvidas sobre mal de Alzheimer e mal de Parkinson, com o geriatra Galvani Salgado Agreli. Amanhã, a gerontóloga Elizabeth Carvalho fala sobre o envelhecimento saudável. Para participar, basta levar 1 kg de alimento não perecível, que será destinado ao Lar de Acolhimento ao Idoso - Lição de Vida. Mais informações pelo telefone 3312-0086.