Rubens Elias ressalta a importância de se elogiar a qualidade das tarefas realizadas por idosos
O perfil dos idosos no mundo mudou significativamente nos últimos anos, graças aos avanços da medicina e ao estilo de vida adotado pela população. Houve aumento da expectativa de vida e melhora da qualidade de vida, com grande crescimento da população nessa faixa etária. Para se ter uma idéia, nos últimos dez anos, a população do Brasil aumentou 21,6%, enquanto que o número de idosos cresceu quase 48%.
Hoje, segundo levantamento feito em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos no país chega a quase 20 milhões, o que representa 10,5% dos brasileiros.
Esse aumento da longevidade traz algumas preocupações não só na área econômica do país, mas também na saúde. Afinal, conforme explica o médico geriatra Rubens Elias, muitas famílias não estão preparadas para cuidar desses idosos, seja por questões financeiras ou emocionais. "Às vezes, acredita-se que esteja fazendo o melhor, mas acaba por prejudicar de alguma forma a qualidade de vida das pessoas idosas", ressalta o especialista.
Segundo o médico, a principal orientação aos cuidadores é para que eles não deixem que os idosos sintam que estão perdendo a condição de realização de atividades cotidianas, como limpeza da casa e administração dos próprios negócios. "Enquanto o idoso tem condição, é importante que se dê tarefas a ele e sempre o elogie pela qualidade de tudo o que vier a fazer, para que este se sinta útil", afirma.
Em contrapartida, é necessário que o cuidador fique atento ao surgimento de lapsos de memória. O geriatra orienta para que assim que ficarem frequentes omissões como deixar torneira ou gás ligado, ou outros tipos de esquecimento, o idoso deve começar a ser acompanhado mais de perto, não podendo sair de casa sozinho.
Já quando se iniciam as dificuldades para locomoção, deve haver uma preocupação dos cuidadores também em adaptar a casa para o idoso, como retirada de tapetes soltos, fixação de barras de apoio nos principais cômodos, como nos banheiros, perto do vaso sanitário e no chuveiro, além da colocação de grades na cama.
"À medida que essa claudicação for aumentando, o cuidador terá de acompanhar a pessoa idosa nas atividades diárias, como no banho e cuidados de higiene. Em caso de pessoas que trabalham com dinheiro, seja no comércio ou mesmo movimentação em conta corrente, é importante que uma pessoa da confiança do idoso esteja sempre perto dele", recomenda.
Além disso, Rubens Elias conta que, principalmente entre os homens idosos, é importante que sempre deixem com eles algum "dinheiro no bolso", mesmo que não tenham noção do valor ou possibilidade de gastá-lo. "É simbólico para eles, representa o poder. Devemos respeitar o que significa qualidade de vida para eles", acrescenta.
Quem cuidar?. Os cuidadores, conforme conta o médico, podem ser tanto os filhos, netos ou outros familiares, como pessoas externas. Elias alerta que em famílias maiores as pessoas devem se revezar no cuidado do idoso, não sobrecarregando um único membro, o que pode levar a um adoecimento dessa pessoa. "Se o cuidador renunciar à sua própria vida, vai estafar e não vai ter condição psíquica e, às vezes, nem física para cuidar do idoso, podendo chegar a falecer antes deste", esclarece. O geriatra sugere que o membro da família que não tiver condição de estar presente contribua financeiramente para que se contrate uma pessoa externa.
Ao contrário do que muita gente analisa, o médico informa que a contratação de um enfermeiro particular ou a internação do idoso em um asilo ou outra instituição não significa um ato de desamor, no caso de a família não ter possibilidade de estar presente. "Nessa situação, basta que se escolha bem a clínica, não só com base em indicações, como também em visitas, que devem ser feitas fora do horário estabelecido, para que se verifique a real condição do local e dos cuidadores ali contratados", orienta.