Insulina desenvolvida em Brasília há 10 anos está penetrando em uma das economias que mais crescem no mundo, a russa. A empresa que detém a patente juntamente com a UnB, chamada Biomm, iniciou a transferência da tecnologia para uma companhia russa que comercializará o produto naquele país. Em 2007, a UnB recebeu R$ 176,6 mil em royalties, valor pago ao detentor de uma inovação pelo seu uso. O processo de obtenção do hormônio foi desenvolvido pela professora Beatriz Dolabela, do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, e por Spartaco Astolfi Filho, hoje professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A técnica criada por eles permite obter uma quantidade maior do hormônio, bem como ter um produto mais seguro. A boa notícia vem no momento em que a primeira solicitação da patente, feita nos Estados Unidos, completa 10 anos. Foram duas décadas de pesquisas iniciadas sem grandes pretensões. Os estudos na área pela qual o grupo se especializou estavam apenas começando no mundo. “Não sabíamos se iam dar certo, mas deu”, comemora a pesquisadora. Avanço. Os estudos feitos pela UnB contam com os avanços proporcionados pela engenharia genética, que possibilitaram a produção do hormônio por microorganismos. No caso da UnB, a bactéria alvo foi a Escherichia coli, encontrada no intestino humano, o que torna o produto mais seguro. Antes do advento da tecnologia, os diabéticos do tipo 1 dependiam da insulina extraída do pâncreas de porcos. Embora melhorasse a qualidade de vida para quem antes não dispunha de alternativas, havia problemas. “Tudo o que vem de animal sempre apresenta riscos. Por mais que purifique, pode ter o risco de ter um vírus”, explica Beatriz. A troca do hormônio traz, ainda, vantagens econômicas. Uma delas é a independência em relação às vísceras animais, e a outra, o incremento na fabricação. “O volume de produção vai depender da capacidade e da estrutura da empresa. A médio prazo, a tendência é ter um produto mais barato”, diz. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Marília de Brito Gomes, vale a pena investir. “Essas tecnologias sempre acrescentam. O país começa a se tornar independente das multinacionais”, diz. Patente. Beatriz continua o trabalho na UnB, mas desta vez seu alvo é a doença de Chagas. “Estamos tentando achar uma maneira de controle da doença a médio prazo”, diz. A pesquisadora tenta identificar a proteína que o parasita usa para fazer a infecção. Concluída essa etapa, a proteína será inserida em uma bactéria para que se possa estudá-la e obter uma terapêutica que consiga inibi-la.