Foto/Arquivo JM

A nutróloga Mariana Argente explica que a obesidade pode agravar o quadro da Covid-19
Obesos têm mais predisposição a desenvolver quadro graves da Covid-19 e necessitar de ventilação artificial devido à restrição pulmonar, alta inflamação e comorbidades associadas à doença. A avaliação é da médica nutróloga Mariana Argente.
Conforme a médica, um dos motivos é que o excesso de peso está associado a limitações cardíacas e pulmonares. “A restrição pulmonar com dificuldade ventilatória faz aumentar a chance de evoluírem para casos graves de insuficiência respiratória”, relaciona Argente.
Além disso, a doença crônica pode gerar alta resposta inflamatória do organismo em casos de infecção, como a do novo coronavírus. “Há um aumento da produção de um hormônio chamado Leptina, que promove a inflamação e tem uma ação direta sobre as células imunológicas. Assim, a resposta inflamatória desses pacientes é mais exacerbada”, detalha.
Outro fator é que procedimentos como intubação orotraqueal e exames diagnósticos são mais difíceis, tecnicamente, de serem realizados nesse tipo de paciente, elevando o risco de complicações, informa a médica.
Mariana Argente ainda lembra que a obesidade, como fator isolado, já é mau prognóstico para infecções como Covid-19. “Adicionalmente, obesos têm, frequentemente, outras comorbidades como diabetes mellitus, hipertensão arterial e apneia obstrutiva”, justifica. Estudo francês ainda mostra que obesos com Covid-19 necessitam mais de ventilação mecânica

Um estudo francês desenvolvido pelo Instituto Pasteur, de Lille, constatou que a obesidade está associada a necessidade de ventilação mecânica invasiva em pacientes admitidos em terapia intensiva pela Covid-19. O estudo é um trabalho conjunto do Instituto com a Universidade de Lille, o Departamento de Terapia Intensiva e o Centro Integrado de Obesidade da cidade francesa de Lille.
A pesquisa analisou a relação entre o índice de massa corporal (IMC) e a necessidade de ventilação mecânica invasiva em 124 pacientes consecutivos internados em terapia intensiva por SARS-CoV-2, em um único centro francês.
Os resultados do estudo mostraram que a obesidade (IMC> 30 kg/m2) e obesidade grave (IMC> 35 kg/m2) estiveram presentes em 47,6% e 28,2% dos casos, respectivamente. No geral, 85 pacientes (68,6%) necessitavam de ventilação mecânica invasiva.
A nutricionista e doutoranda em Ciências da Saúde Renata Leão esclarece que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a obesidade baseando-se no IMC. “A OMS define a gravidade da obesidade em grau I quando o IMC está entre 30 e 34,9 kg/m²; a obesidade grau II com IMC entre 35 e 39,9 kg/m² e, por fim, obesidade grau III na qual IMC ultrapassa 40 kg/m²”, complementa a nutricionista.
Segundo Leão, é necessário levar em consideração que o estudo foi realizado em um local específico, com um número de pacientes limitados. “Por isso, apesar da pesquisa ser valiosa para a ciência e para a atual situação que todos enfrentamos perante a pandemia, este achado levanta a necessidade de estudos mais aprofundados a fim de se estabelecer medidas preventivas para pessoas com obesidade”, avalia.
Por fim, ela recomenda ações para ajudar a frear o aumento do excesso de peso, como reduzir o consumo de farinhas brancas, açúcares e bebidas açucaradas, diminuir a ingestão de bebidas alcoólicas, aumentar o consumo de alimentos integrais, que proporcionam maior saciedade, tentar respeitar a sensação de fome e saciedade e praticar, regularmente, alguma modalidade de exercício físico que traga prazer e saúde.