Oftalmologista João Antônio Prata revela que a doença é mais comum nas primeiras semanas de vida...
Em recém-nascidos, lacrimejar sempre é sinônimo de choro? Engana-se quem respondeu que sim. Cerca de 2% a 6% das crianças que nascem no mundo sofrem com a chamada dacriocistite neonatal. A doença é causada pela obstrução das vias lacrimais, resultando em choro excessivo, secreção ocular e, em alguns casos, febre e inchaço. O problema, na maioria das vezes, é de simples solução, bastando para isso basta que os pais fiquem atentos. O oftalmologista João Antônio Prata, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), mantenedora do Hospital Escola, explica que o acompanhamento do tratamento pela família é fundamental. Segundo o especialista, a doença, mais comum nas primeiras semanas de vida, pode ser curada até mesmo por pediatras, com a orientação sobre massagens no saco lacrimal (que fica no canto interno do olho sobre o nariz) e o uso de colírios adequados. Em alguns casos, a obstrução dos canais lacrimais é persistente, sendo os bebês encaminhados para os consultórios oftalmológicos. “Se depois dos oito meses de vida, o problema não tiver sido resolvido, damos uma leve anestesia nessa criança e passamos uma sonda, que desentope o canal”, conta o médico. Com a sonda, o prognóstico é positivo em praticamente 100%. “Isso, se a família acompanhar, evitando assim a cirurgia”, enfatiza, mais uma vez, o oftalmologista. O procedimento cirúrgico é mais delicado, apesar das complicações serem pequenas. A cirurgia só é realizada a partir dos 5 anos de idade e dá-se preferência em crianças pelo procedimento pelas vias nasais. Por analogia, o especialista explica para os leigos o problema. Segundo ele, as lágrimas “lavam os olhos”, as pálpebras funcionam como “limpador de pára-brisas” e, consequentemente, as lágrimas deveriam escoar pelos canais lacrimais. Isso não acontece no caso da dacriocistite, quando essas vias estão obstruídas, o que provoca o lacrimejamento excessivo na face. A doença também pode atingir os idosos, apesar de mais raro. Nesses casos, conforme alerta o oftalmo, o tratamento é essencialmente cirúrgico. Atualmente, existem poucos especialistas nesse procedimento. João Prata é um deles. Em Uberaba, ele e a equipe de residência do Hospital Escola (HE) já chegaram a ter treze pacientes na fila de espera, mesmo com a raridade da doença. E, segundo levantamento realizado pela instituição, 95% dos procedimentos cirúrgicos realizados no local obtiveram sucesso. “Essa estatística está de acordo com as melhores do mundo”, ressalta o médico. A recuperação da cirurgia é um pouco demorada, uma vez que, conforme informa o especialista, o procedimento é complexo e requer inclusive a quebra de osso. De outro lado, pelo corte acompanhar as linhas de força do rosto (ou seja, o curso das rugas), em geral, as pessoas não ficam com cicatrizes. “É uma cirurgia complexa, mas felizmente com riscos pequenos”, garante.