Levantamento da Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostrou que, em apenas quatro anos, a venda de antidepressivos no Brasil cresceu 42%...
Levantamento da Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostrou que, em apenas quatro anos, a venda de antidepressivos no Brasil cresceu 42%, passando de 17 milhões para 24,1 milhões de unidades anuais. Dados parciais de 2008 mostram que os números continuam ascendentes. Até julho deste ano, já foram vendidos no país 14,6 milhões do medicamento. Para a psicóloga Lourraine Marega Andrade, esse aumento se deve a uma prescrição exagerada por parte dos médicos. De acordo com a especialista, alguns pacientes apresentam apenas sintomas depressivos, e não uma depressão, ou seja, não precisam de drogas, e sim de um tratamento psicológico. “As pessoas acham que o remédio resolverá seus problemas. E os médicos cedem. Hoje, as pessoas querem resoluções imediatas e preferem procurar o medicamento como uma forma de camuflar seus sofrimentos mentais, esquecendo-se que por trás desses sofrimentos estão as nossas emoções, que precisam ser enfrentadas e elaboradas”, avalia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 75% das pessoas com depressão não recebem tratamento adequado. Mas assim como a venda de antidepressivos, o número de pessoas com a doença também tem aumentado. Conforme a OMS, atualmente, a depressão afeta cerca de 340 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são cerca de 17 milhões. A explicação para esse alto número, segundo Andrade, é que o homem contemporâneo, muitas vezes, possui a sensação de que pode tudo e as relações na atualidade levam em conta, especialmente, fatores ligados à auto-estima e aos desejos onipotentes, que nem sempre são conquistados. “Diante da impossibilidade de gratificação destas demandas, desencadeiam-se frustrações, uma vez que os objetos tão almejados e procurados não satisfazem. Consequentemente, surge o sofrimento, que se manifesta nas diversas condutas do cotidiano e na ânsia de novos desejos”, justifica. Conforme conta a psicóloga, a depressão é mais frequente nas mulheres com idade entre 18 e 44 anos, porque geralmente elas tendem a dar mais valor às ligações e relações pessoais com outras pessoas do que os homens. “É possível que essa ênfase sobre os relacionamentos torne algumas mulheres mais vulneráveis à depressão. Além disso, as alterações hormonais, acontecimentos negativos ou outros podem contribuir para essa prevalência da doença no sexo feminino”, afirma. De acordo com a especialista, os principais sintomas da depressão são tristeza profunda e duradoura (em geral, mais que duas semanas), perda do interesse ou prazer em atividades, sensação de vazio, falta de energia, perda da esperança, pensamentos negativos, pessimistas, sentimento de culpa ou autodesvalorização. Se não tratada, a principal consequência da depressão é o suicídio. A estimativa da OMS é de que ocorram cerca de 850 mil suicídios anualmente em decorrência da doença. “Mesmo quando a tentativa não é fatal, suas consequências são devastadoras, com sequelas físicas e psicológicas”, ressalta Andrade. Além das drogas antidepressivas, que corrigem o metabolismo dos neurotransmissores, também são opções de tratamento a psicoterapia e a psicanálise.