Levantamentos mostram que o refluxo gastroesofágico, que caracteriza o retorno do conteúdo do estômago pelo esôfago, apesar de pouco divulgado, atinge cerca de
20 milhões de brasileiros. Isso significa que 12% da população têm 70% mais chances de sofrer de males como esofagite e até mesmo câncer no esôfago, doença cuja incidência já aumentou, sendo o sexto tumor mais comum entre os homens e o oitavo entre as mulheres.
De descoberta recente, o refluxo pode acontecer devido à imaturidade do sistema digestivo ainda na infância. A otorrinolaringologista Sabrina Maria de Castro Sarreta explica que o retorno pode ser pequeno ou grande. “Há bebês que regurgitam muito e esse conteúdo que temos no estômago é ácido. O revestimento do estômago está preparado para esta acidez, mas revestimentos da área respiratória, como a garganta e o nariz, não estão”, esclarece.
A especialista destaca que, quando o refluxo chega até essa região alta da garganta, a criança não sabe contar aos pais e o episódio acaba provocando inflamações que predispõem a criança a outras doenças e infecções. “São amigdalites, otites, sinusites.
E controlando o refluxo é possível prevenir a repetição dessas infecções em crianças muito pequenas”, ressalta Sabrina.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, os sintomas não são iguais em todas as crianças, mas em geral são golfadas na hora de mamar ou vômitos sucessivos, choros de dor, sem outra causa aparente, surgimento de otite de repetição e ronco respiratório, como se estivessem encatarradas.
Cuidados. Vale lembrar que nem sempre é necessário tomar remédios em caso de refluxo. A enfermeira Cíntia Dutra explica que alguns cuidados simples podem evitar o problema do retorno do alimento ao esôfago. “Se a criança acabou de amamentar, nunca a deite imediatamente após a amamentação, porque, ao tomar o leite, ela engole ar, que tende a voltar, e ao sair volta um pouco de leite junto. Se a criança estiver deitada, o leite é aspirado, indo para o pulmão”, esclarece. Após a amamentação, a orientação é esperar o arroto, e depois manter o colchão no berço de 30 a 45 graus de inclinação e o bebê deitado para o lado direito. Para dormir, o ideal é colocar a criança sempre de barriga para cima, o que evita 70% dos casos de morte súbita em bebês.
Embora o problema esteja ligado à imaturidade do sistema digestivo e na maioria das vezes se resolva até por volta dos dois anos de idade, se não tratado e solucionado ainda na infância, o refluxo também pode atingir adultos de várias idades. Os sintomas mais comuns são a sensação de azia e queimação. Por isso, o ideal é prevenir com os cuidados básicos, mas se os sintomas persistirem, o médico deve ser informado.