A rigor, o ato de votar não é obrigação. É o maior dos direitos. Por ele escolhem-se e elegem-se os candidatos que irão, em determinado período, gerir a coisa pública, seja elaborando as leis que regem o dia a dia das pessoas, seja executando programa de realizações abrangentes de todos os setores da sociedade.
Se a responsabilidade dos eleitos é grande, a dos eleitores não é menor. Contudo, uns e outros, em geral, não se têm desincumbido desse dever. Mais: nem ao menos sabem que ele existe. Aqueles, por que tratam a coisa pública, com as exceções de praxe, no mais das vezes incompetentemente e, quando não, o que também é grave, como se fosse coisa sua, e não de todos.
Mas quem os coloca à frente dos órgãos públicos, já que eles não se autoelegem e nem são simplesmente nomeados, mas eleitos? O eleitor.
Com tamanha responsabilidade, como age, normalmente, o eleitorado?
Com as (poucas) exceções de praxe, da pior maneira possível, isto é, evitando a política, sob os mais variados pretextos e desculpas. Ora, dizendo não “gostar” de política. Ora, afirmando não se tratar de coisa “séria”. Outras vezes, considerando “perda de tempo” dela participar e/ou acompanhar. E assim por diante.
Enquanto isso, os grupos econômicos, que não são ingênuos nem despolitizados ou desorganizados, além de deter o poder econômico-financeiro, dominam o campo político e elegem seus candidatos, obtendo, também, com isso, poder administrativo, que direcionam para o atendimento, antes de tudo, de seus interesses que, geralmente por restritos ou setoriais, não podem ser confundidos ou tidos como de toda a sociedade.
O eleitor, pois, tem a obrigação de se preocupar com política, que se pode manifestar, isolada ou conjuntamente, de várias formas: a) participação direta, filiando-se a um partido e tomando parte de reuniões, debates e decisões e até mesmo candidatando-se, se possível, desejável ou necessário; b) participação indireta, mas também eficaz, acompanhando os fatos políticos, fiscalizando, opinando e criticando construtivamente a atuação dos eleitos, seja individualmente, seja por meio de suas associações de classe, seja mediante organizações especialmente criadas para proceder a esse monitoramento, divulgando seus resultados.
O eleitor, dentro de suas possibilidades pessoais, deve dar atenção ao trato da coisa pública, deve conscientizar-se de que ela não é propriedade particular, é bem de todos e, portanto, também seu, devendo, em consequência, estar a serviço de todo o povo, e não, apenas, como em geral acontece, a serviço de poucos.
Enfim, o eleitor deve saber, acima de tudo, que o país poderia estar muito melhor se não fosse sua falta de interesse pela política, sua indiferença e comodismo, que também se estende a tudo que extrapole seu restrito e particular mundinho, atingindo as próprias instituições a que diretamente pertence (sindicatos, associações, condomínios), a cujas assembleias, eleições e reuniões nem comparece.
Já está passando da hora, pois, de os eleitores assumirem suas responsabilidades e deixarem de transferir apenas para os eleitos a culpa pelo estado atual das coisas no Brasil. A todo direito corresponde uma obrigação. O direito de votar implica, também, no dever e na responsabilidade de, primeiro, agir honestamente em qualquer circunstância e, depois, de se informar e de acompanhar, minimamente que seja, as atividades político-administrativas, participando tanto quanto possível do próprio processo de escolha dos candidatos para que se possa eleger quem represente e defenda, efetivamente, os interesses gerais da população e do país.