A existência de Santas Casas constitui tradição portuguesa implantada no Brasil desde que foi fundada, em 1540, em Olinda/PE, a que seria a primeira delas, sendo a segunda a de Brás Cubas, em Santos, em 1543, seguida pela de Salvador/BA, em 1549, e pela do padre Anchieta, uma das figuras fundamentais do nascimento do país, iniciada em 1582 no Rio de Janeiro.
A importância desses nosocômios decorre de sua necessidade e imposição social para atendimento médico-hospitalar da população destituída totalmente da possiblidade de arcar com os custos dos tratamentos e medicamentos. Justamente ela e justamente por ser destituída de meios econômicos, a mais vulnerável e mais suscetível de sujeição aos males físicos.
Em pelo menos todas as cidades grandes e médias brasileiras existiram Santas Casas.
Em Uberaba não foi diferente, conquanto ainda pequeno núcleo populacional, não ultrapassando, com os escravos, de 2.000 habitantes em fins da década de 1850.
Contudo, aqui chegando em 1856, frei Eugênio Maria de Gênova, notável missionário pregador e gênio empreendedor – conforme testemunho do historiador Antônio Borges Sampaio −, à semelhança do padre Anchieta, constatou a necessidade dessa categoria de nosocômio para assistência e atendimento da população carente, dando início em 1858 às obras de sua construção sob planta por ele elaborada de prédio de extraordinária proporção para a época e dimensão da cidade, com mais de 2.000 metros quadrados de área edificada em terreno superior a 19.000 metros quadrados.
Não obstante não tê-lo podido concluir por seu prematuro falecimento, seu ideal e esforços conseguiram ser finalizados e inaugurados em 1898, porém, quarenta anos depois!
Toda essa História é contada por José Mendonça no ensaio que se publicou em segunda edição no blog Bibliografia Sobre Uberaba, ensaio que veio a lume em 1949 e desde então se encontra fisicamente esgotado e inacessível a quem se interesse pelo assunto.
Graças, contudo, ao empenho e cuidado com que Liana Mendonça, filha do autor, conservou e conserva exemplar da edição original, pôde-se disponibilizá-lo no referido blog.
Elaborado a pedido, conforme registra José Mendonça, esse ensaio, dividido em duas partes, focaliza com critério e objetividade a figura exponencial de frei Eugênio e, em seguida, descreve a fundação e o funcionamento da Santa Casa, administrada pela atuação, desprendimento e operosidade de suas mesas administrativas e dos dedicados médicos e irmãs dominicanas que, por amor ao próximo, a dirigiram e possibilitaram o atendimento e a assistência aos necessitados.
Por meio de suas páginas, toma-se conhecimento, passo a passo, das dificuldades enfrentadas e vencidas e das ampliações e modernizações implementadas, ressaltados a dedicação e o trabalho do dr. José Ferreira, seu mais longevo provedor, que, por sinal, enfrentou e venceu, após catorze anos de esforços, a construção do prédio atual após o incêndio que devorou o antigo, em 1921.
Assim, pois, tem-se até 1949, data da elaboração do ensaio, notável levantamento histórico da fundação e atividades da Santa Casa, cujo edifício hospitalar pertence hoje à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, mediante doação.
Atualmente, toda a assistência médico-hospitalar assistencial, anteriormente suportada pela Santa Casa, está acometida ao Hospital Universitário, de fundamental importância para Uberaba e região.
Guido Bilharinho
Advogado em Uberaba e editor das revistas culturais eletrônicas Primax (Arte e Cultura), Nexos (Estudos Regionais) e Silfo (Autores Uberabenses)