Antônio Borges Sampaio (Valença do Douro/Portugal, 1827 - Uberaba, 1908) foi um desses seres humanos exemplares, de total e desinteressada dedicação à coletividade. Para nossa sorte, a coletividade que ele tão bem serviu (e também amou profundamente) foi Uberaba, sem querer nada em troca, a não ser que seus atos, palavras e atitudes tivessem utilidade. Não pretendeu nem reconhecimento nem homenagens. Será que, por isso, ele e elas lhe foram sonegados pela comunidade a que tanto se dedicou?
Se não fossem referências de historiadores e intelectuais e, principalmente, a edição de seus ensaios, em 1971, sob o título Uberaba: História, Fatos e Homens, pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro, conquanto mais de sessenta anos após sua morte nenhum reconhecimento teria e nenhum tributo permanente lhe seria prestado.
A admiração e devotamento dos intelectuais vêm expostos e expressos na parte introdutória da referida edição, que então organizamos para a Academia. As reedições de seus ensaios representam mais um esforço dos que nele reconhecem as mais altas qualidades pessoais, humanas, profissionais e intelectuais.
Já a denominação de Coronel Sampaio a três quarteirões, que vão da rua Monte Alverne à Marquês do Paraná, não constituiu homenagem da coletividade representada pela Câmara Municipal, porém, ao que consta, de Pascoal Toti, em loteamento particular feito naquela área, onde também se situa outra minúscula rua com o nome de des Genettes – outro injustiçado –, que, entre tantos outros melhoramentos implementados na cidade, foi o fundador de sua imprensa.
Por parte dos historiadores, dos intelectuais informados (ou seja, de quem sabe das coisas e valoriza o que realmente tem valor) e da Academia de Letras que o retirou do olvido, Borges Sampaio nunca será esquecido e sempre será referenciado. Porém, da parte dos cidadãos e de seus representantes...
Urge – e de há muito – que se corrija essa injustiça para com uma das pessoas que mais trabalharam para a cidade, enquanto quem mais a prejudicou, comprometendo-lhe o futuro – Afonso Pena, por culpa de quem se desviou a estrada de ferro Uberaba-Coxim para a Noroeste Paulista, levando todo o comércio uberabense com Mato Grosso para São Paulo – tem nome numa das principais praças da cidade, já o tendo até mesmo na praça principal. Enquanto Borges Sampaio...
A mais recente edição, a terceira, desta feita
em suporte eletrônico (blog https://bibliografiasobreuberaba.blogspot.com/), reproduzindo as anteriores, reúne ensaios, biografias e dispersos (artigos e notas), publicados e inéditos, escritos por Borges Sampaio no decorrer de sua afanosa e produtiva existência. Os publicados o foram em periódicos da época e os inéditos, remetidos precavidamente ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde se encontram os originais manuscritos.
A obra propriamente dita divide-se, pois, nas três seções referidas, todas repletas de dados e de alta carga informativa. Precedem-nas excertos de diversos depoimentos sobre Sampaio e a notável biografia que lhe dedicou Hildebrando Pontes, que muito esclarece de sua posição, labores, atividades, produção intelectual e total devotamento às causas conducentes ao progresso material e cultural de Uberaba, num grau de intensidade e disposição raramente encontrado e encontrável.
Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e editor das revistas culturais eletrônicas Primax (Arte e Cultura), Nexos (Estudos Regionais) e Silfo (Autores Uberabenses)