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Eleições: a frustração do voto

Guido Bilharinho
Publicado em 20/09/2024 às 18:21
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A frustração do voto deriva da falta de informação exata, precisa, já que em geral os candidatos camuflam-se, tentando passar por representantes de toda a sociedade como se ela fosse uma, e não dividida em classes, com interesses ora comuns, ora conflitantes. No primeiro caso, por exemplo, porque interessa, normalmente, a empregador e empregados a sobrevivência da empresa, já que, com sua falência, aquele perderia um bem e estes, a fonte de emprego. No segundo caso, porque, basicamente, os empregados estão excluídos da propriedade e, ainda, porque a acumulação de capital se faz em detrimento do trabalho, mediante a apropriação pelo detentor dos meios de produção da diferença entre o preço pago à força de trabalho e o valor do que ela efetivamente produz, sempre superior àquele, o que é denominado mais-valia, daí decorrendo a contradição fundamental da sociedade.

Os candidatos, pois, em sua maioria, é que procuram se disfarçar, tanto do ponto de vista de suas qualificações pessoais, blasonando qualidades que não têm ou alardeando defender interesses que, na realidade, não defendem.

Essa categoria de eleitores, pois, sabe votar, já que ninguém, em sã consciência, escolhe, deliberadamente, candidato que apoie e favoreça interesses contrários aos que se é, pensa e sente, a não ser quando vítima da transferência ideológica, mas, nesse caso, votando contra o que se é, não, porém, contra o que se pensa.

O candidato em geral, sim, é que pode ser enganador, simples isca para captar voto. O peixe não abocanharia a isca se soubesse (ou seu instinto indicasse) o que ela é para além da aparência.

À semelhança, pois, do peixe, o povo, na maioria das vezes, engole a isca, o que é facilitado pelo componente de sonho e esperança que porta em si, votando geralmente em candidatos que, ao invés de representá-lo, irão defender outra classe social ou, quando menos, apenas procurarão locupletar-se e fazer da política mera carreira ou profissão.

Saber votar não é, pois, questão de educação e instrução, mas de informação. Se assim não fosse, os analfabetos votariam no mesmo candidato, o que não se dá.

Por sua vez, a informação é facilitada, tanto pela democratização dos meios de comunicação como pela instrução, que, todavia, não são conditio sine qua daquela. A maior, menor ou nenhuma informação do eleitor depende fundamentalmente de suas possibilidades de acessá-la, de sua responsabilidade cívica, de seu interesse pela política, procurando conhecer os candidatos, acompanhando e fiscalizando, dentro do possível, o desempenho dos eleitos, individualmente e/ou por meio de suas associações de classe e organismos especializados (a serem urgentemente criados), e reelegendo-os ou não em futuras eleições, que é uma das formas de controle externo (e pelo povo) das atividades legislativa e executiva, que ainda têm o Judiciário e os tribunais de Contas para examinar e julgar seus atos, o que, todavia, ainda não ocorre plenamente com esses últimos.

Daí se segue que o exercício da democracia constitui a condição mesma de aprimoramento do regime democrático e que qualquer quebra de seu curso normal visa justamente evitar a participação política do povo e o crescimento e aperfeiçoamento de seu grau de informação e politização, do que resultaria a eleição de representantes da maioria da sociedade e não, como acontece, a eleição de uma maioria de representantes da minoria do corpo social. Nesse descompasso reside muito da origem da desorganização nacional, do bloqueio ou protelação de empreendimentos, da exploração internacional de nossas riquezas, da grande concentração de renda, do desequilíbrio social existente e da falta de igualdade de oportunidades para todos.

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