A consciência política é relativa, já que decorre da posição do indivíduo e de sua classe no contexto social. Proudhon já dizia, antes dos meados do século XIX, que numa cabana se pensa diferentemente de um palácio, circunstância que hoje se sabe relativizada face à transferência ideológica, pela qual o elemento de uma classe incorpora ideias e conceitos de outra.
Não deriva, pois, da educação ou instrução o maior ou menor grau de consciência política. Se assim fosse, numa Universidade, numa sala de aula de curso Superior, por exemplo, todos os alunos deveriam necessariamente votar no mesmo candidato ou, pelo menos, no mesmo partido, o que não acontece, mesmo levando-se em conta ou descontando-se o fato de que o sistema educacional geralmente exclui da universidade grande parte dos integrantes das classes assalariadas.
O que se quer dizer com “saber votar” é, pois, esse grau de consciência política. A maioria o tem. O cientista político Francisco Weffort aventou a hipótese de que todos sabem votar, já que procurariam escolher candidatos e/ou programas partidários nítidos e consistentes (nesta hipótese, onde efetivamente eles existem, que não é o caso do Brasil), que iriam defender e/ou agasalhar suas ideias e interesses ou que eles julgam que fariam isso.
A proposição de Weffort não encontra total respaldo na realidade, porque parte do eleitorado não vota orientado por esses padrões, e sim, geralmente, por outros fatores, a exemplo da simpatia física, aparência, maior facilidade de expressão dos candidatos, grande exposição na mídia e, ainda, por pagamento de favores recebidos ou prometidos (cesta básica, terreno, emprego, dinheiro, etc.).
Contudo, no que tange aos que votam com consciência é que surge a questão. Esse eleitor sufraga determinado candidato porque sabe (ou supõe que sabe, que é o que comumente acontece) que ele defenderá seus interesses, ideias e ideais.
No exercício desse direito, pode acertar ou não. Por quê? Qual o critério para aferir o acerto ou o erro de sua opção?
Não há critério objetivo, científico e neutro, a não ser no que se refere à qualificação pessoal do candidato, de honestidade, competência e capacidade de trabalho, de resto, requisitos exigidos e indispensáveis ao desempenho e êxito em qualquer atividade, pública ou privada.
Desse modo, para além dessas exigências básicas, mas de caráter pessoal, o fundamental é saber que interesses e classes os candidatos representam e votar em consequência. Isso, porque a sociedade humana não é uniforme, mas dividida em classes sociais, de conformidade com a situação das pessoas em relação à propriedade dos bens existentes, ou seja, se é grande, médio ou pequeno proprietário ou nada possui, tendo, neste caso, de si e para si, apenas a capacidade de trabalho, pois, de seu, o despossuído só tem a si mesmo.
Nesse contexto, o indivíduo procura votar no candidato que sabe ou pensa saber que interpreta sua posição social e que irá (ou deveria) lutar por seus específicos interesses econômicos. O inquilino, por exemplo, opta pelo candidato favorável à intervenção do Estado no mercado imobiliário, controlando o valor dos aluguéis. O proprietário, pelos candidatos que optam pela desregulamentação, deixando ao mercado e à lei da oferta e da procura a fixação do valor locatício dos imóveis. E assim por diante.
Esse tipo de eleitor sabe, portanto, votar. O que lhe falta é, na maioria absoluta das vezes, a informação correta sobre a autenticidade ou a inautenticidade do candidato que escolhe. Ou seja, se ele é, efetivamente, representante de sua classe social, de suas necessidades e, secundária ou subsidiariamente, se tem competência ou capacidade pessoal para tanto.