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Fragmentos Árabes

Guido Bilharinho
Publicado em 21/06/2024 às 18:36
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São fragmentos (partes, parcelas, vestígios) e são árabes (no caso, libaneses). O livro de Jorge Alberto Nabut constitui levantamento de dados, fatos, acontecimentos, pessoas e famílias libanesas. Porém, não apenas. Além disso, constrói e compõe criação, mais do que reconstituição, de contexto humano peculiar, histórico-espacial e especial de confluência imigratória. Construção e criação não apenas dos fatos, pessoas e ambientes. Porém, artístico-literária, social e histórica, aureolada de acentuado e requintado halo poético, porque Nabut não é só pesquisador, historiador e analista de seres humanos espacial e socialmente situados, mas, também – superiormente – poeta. Como o lendário Midas, em que tudo que tocava virava ouro, Nabut, tudo o que escreve vira poesia, é poesia.

Há em Fragmentos Árabes – mais do que arrolamento e encadeamento de fatos e atos – percepção poético-humana que, ao mesmo tempo que extrai da realidade vivida e convivida a essência mais profunda de seu ethos, infunde-lhe sentido e significado para além do visualizado e do aparente, fatores que só essa percepção, aliada à inteligência e sensibilidade, pode criar, construir, fazer.

Livro de criação e construção de arquitetura humana e social, de vidas, movimentos, labores, vivências e convivências, tradições, lembranças e saudades, solidariedade e amizades, compõe argamassa que une, solda e solidifica vidas humanas desligadas de sua origem comum, lançadas para longe da pátria, dos lares, das famílias, dos espaços memoráveis e inesquecíveis da infância e da juventude – imperecíveis e imperiosos. Porém, nunca olvidados, jamais esquecidos, mas, acrescidos e articulados em novos espaços, povos, idiomas, costumes, hábitos, lutas, dificuldades, adaptações e, sobretudo, trabalho, porfia.

Esse, o universo humano coeso, sólido e íntegro erguido, no livro, com o livro e pelo livro, como escultura e arquitetura humanas de transplantação, assimilação, integração e contribuição civilizacional numa simbiótica, harmônica e enriquecedora junção e conjunção.

Nisso, a cidade de Santa Juliana se alteia, resume e sintetiza os destinos dos novos fenícios na confluência e plenitude de vidas, vivências, espaços, povos. Que se integram para, juntos, partilharem os benefícios, os ônus, labores, hábitos e costumes do viver, conviver e sobreviver.

Santa Juliana, Zelândia, Palestina, Alpercatas, transformadas, incorporadas, mitificadas.

Fragmentos Árabes, por reconstruí-las na memória e construí-las na arte, perenizando-as e eternizando-as poética e humanamente, consubstancia-se em hino, brasão e símbolo perenes, eternos.

Tudo poderá acontecer com essas localidades no porvir e já vem acontecendo. Todas as transformações e alterações ocorridas, ocorrentes e que deverão ocorrer no futuro incessantemente, após Fragmentos Árabes, não terão força de derrogá-las, olvidando-as, porque, no livro, mercê da inteligência, da sensibilidade e da arte, tornaram-se intocáveis, imperecíveis. Para sempre. Como “numa silenciosa tarde lilás de maio [....] cada som [....] é precioso, por causa do silêncio acaba se incorporando a cada lugar, como se nada, na natureza e na humanidade, aluísse, deixando vaga apenas para o tirocínio, abstração das contas, dos cálculos, dos teoremas da existência [....] os santos revoam, mulheres colhem rosas” (Fragmentos Árabes, subcapítulo “Os Sons de Maio” do capítulo “Sinos e Cristais”, 1ª edição Instituto Triangulino de Cultura, 2001; 3ª ed. eletrônica, 2020, blog Bibliografia Sobre Uberaba).

 Guido Bilharinho

Advogado em Uberaba e editor das revistas culturais eletrônicas Primax (Arte e Cultura), Nexos (Estudos Regionais) e Silfo (Autores Uberabenses)

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