A propósito dos ataques covardes ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal com todos os seus desdobramentos e repercussões nos aspectos político, jornalístico, diplomático, jurídico, policial, econômico, social e moral, a análise a ser feita aqui se prenderá aos efeitos políticos sob a ótica dos seus reflexos futuros.
De acordo com pesquisa DATAFOLHA para avaliar a reação da população brasileira, 93% condenam o ataque aos Três Poderes da República. Para 55%, Bolsonaro tem responsabilidade sobre os atos, o que não é pouco.
Os adeptos de Bolsonaro que radicalizaram, vandalizando a Praça dos Três Poderes, colaboraram sobejamente para elevar o desgaste do ex-presidente, isolando-o mais ainda e empurrando-o para o quadrante limitado da extrema direita. Aqueles a quem os extremistas queriam derrotar saem vitoriosos desse hediondo episódio. Saem fortalecidos os três pilares da República, as instituições, os entes federados, ou seja, a DEMOCRACIA.
O resultado do segundo turno mostrou um país dividido ao meio numericamente, evidenciando a chamada polarização. Porém, vale recorrer a esses mesmos números que revelaram essa divisão e ler o que eles podem informar além do mero percentual final da apuração das urnas.
Em 2018, no segundo turno, foram 104.838.753 votos válidos:
Bolsonaro obteve 57.797.847 de votos e Haddad, 47.040.906.
Em 2022, no segundo turno, foram 118.552.353 de votos válidos:
Bolsonaro obteve 58.206.354 de votos e Lula, 60.345.999.
Da eleição de 2018 para a de 2022, Bolsonaro, no exercício da Presidência, obteve 408.507 votos a mais, um crescimento de apenas 0,7% nesses quatro anos. No mesmo período, para Haddad/Lula, foram 13.305.093 de votos a mais entre 2018 e 2022, um crescimento de 28%.
Com relação aos votos válidos de 2018 para 2022, foram 13.713.600, um acréscimo de 13%.
Nas eleições de 2026, os votos válidos deverão ter um acréscimo de 13% em relação a 2022, ou seja, mesmo índice de 2018 para 2022. Os dados revelam que o crescimento dos votos dados ao PT em 2022 é praticamente a diferença entre os votos válidos totais entre 2018 e 2022, ou seja, quase a totalidade desta diferença: 13 milhões de votos.
O aumento dos votos válidos a cada quatro anos se dá em função do eleitorado que vai se habilitando nas faixas etárias iniciais. Em 2026, teremos eleitores que hoje estão com 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 anos.
Entre os eleitores dessas faixas eleitorais que se qualificaram para votar em 2018, a imensa maioria votou em Lula. Foi um dos segmentos, nos recortes das pesquisas, onde havia uma vantagem confortável em favor do candidato do PT.
Tudo pode mudar até 2026, mas, se quase nada mudar, a polarização, nos moldes de hoje, pode perder força em termos numéricos, tendo em vista o novo eleitorado que se mostra mais simpático ao ideário de centro esquerda.
O trágico episódio do dia 8 de janeiro revela que o repertório da extrema direita é pequeno, fraco, medíocre, insuficiente, desagregador e antidemocrático para assumir a liderança de oposição. Quem, de fato, deseja assumir uma referência de destaque nos próximos quatro anos se opondo ao Governo Lula precisa entender que a pauta bolsonarista é fatigante e a tendência é perder fôlego fora do poder, mesmo com uma significativa representatividade momentânea no Poder Legislativo Federal.
Os números acima expostos, lidos com uma abrangência que ultrapassa o simples placar eleitoral, permitem deduzir que a atual polarização pode ser mais retórica do que numérica a partir de agora até 2026. Os polos democráticos devem ganhar protagonismo. A ver.
Luiz Cláudio dos Reis Campos