Se for para lembrar, que seja para absorver as lições que ela deixou
Capa do dia 17 de agosto de 1984 (Foto/Arquivo JM)
Capa do dia 21 de setembro de 1987 (Foto/Arquivo JM)
Capa do dia 2 de junho de 1988 (Foto/Arquivo JM)
Até os anos 80, jamais um governo legitimamente eleito havia sofrido tantas denúncias de corrupção quanto aquele liderado por Wagner do Nascimento.
De origem humilde, preto e fazendo uma campanha contra candidatos que representavam a elite, a surpreendente vitória de Wagner em 1982 “lavou a alma” das periferias.
Com ele chegaram ao prédio da praça Rui Barbosa ideias inovadoras, como o Circo do Povo, festa junina popular, Cohagra para distribuir terrenos aos pobres, Codiub para prestar serviços de informática não apenas para a Prefeitura, mas também para outras cidades, e ainda os sonhos de muita gente. O Brasil o citava como o negro que derrotou os “zebuzeiros”.
Mas esse clima de festas não durou muito. Graves problemas afloraram e um deles marcaria Wagner do Nascimento por todos os anos seguintes. E também fez com que uma instituição de união dos municípios da região caísse no descrédito e desaparecesse.
Os escândalos
Quase simultaneamente sugiram o “escândalo do suborno” e o mais grave de todos, o da Amgra, a Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Rio Grande, sob a liderança de Uberaba.
No caso do “escândalo do suborno”, o alvo era a Câmara de Vereadores, que, na época, votava pedidos de aumento de tarifa do transporte coletivo. E a denúncia de que tinha vereador se vendendo para a empresa de ônibus partiu de outro edil, o conceituado advogado criminalista Aluízio Ignácio de Oliveira, cujo nome, duas décadas depois, sugeri a Anderson Adauto, então prefeito, para a penitenciária que estava em construção. E aconteceu com a efetiva participação da OAB. Mas esse é um capítulo à parte.
A denúncia de Aluízio, de que vereadores tinham sido subornados para aumentar a tarifa de ônibus, levou à criação de Comissão Especial de Investigação. Era o começo do fim do poder até então exercido pelo Legislativo. Os próprios vereadores entenderam que o melhor era entregar a incumbência ao Executivo.
Se o “escândalo do suborno” não atingiu Wagner, o da Amgra o pegou de cheio. As consequências foram políticas e criminais. O prefeito perdeu o apoio de importantes correligionários, incluídas algumas lideranças do seu partido, PMDB, como o advogado José Raimundo Jardim.
Começo do fim
Wagner calculou mal o que seriam as consequências e, enquanto pode, sustentou o seu homem de confiança, Cícero Romão Batista, como secretário-executivo da Amgra. Afundaram-se os dois.
E da grande liderança negra consagrada pelas urnas de 1982 restou um dos raros prefeitos, nos anos 80/90, condenados à prisão. Sentença do juiz Mauro José de Souza ratificada em todas as instâncias.
O descrédito da Amgra, que pagou despesas de empresas privadas e teve verbas desviadas, provocou um novo trabalho (do então prefeito Luiz Guaritá) de convencimento da região a aderir à associação que sepultaria de vez aquela marcada pela corrupção e por isso esvaziada. Não deixou saudades.
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