Neurologista alerta para que pais, sobretudo com filhos pequenos, repensem o próprio uso de dispositivos móveis
A avalanche de dados e estímulos sem filtragem, somada ao uso abusivo de telas, está mudando padrões de comportamento e afetando funções básicas do cérebro (Foto/Reprodução)
A exposição exagerada a telas e o consumo desenfreado de informações podem estar diretamente ligados ao aumento de casos de transtornos como ansiedade, déficit de atenção (TDAH) e até depressão. O alerta é da neurologista Camila Batalha, que vê na rotina hiperconectada de adultos e crianças um fator de risco crescente para a saúde mental e neurológica.
Segundo a especialista, em entrevista ao Pingo do J, da Rádio JM, a avalanche de dados e estímulos sem filtragem, somada ao uso abusivo de telas, está mudando padrões de comportamento e afetando funções básicas do cérebro. “Antes, ao chegar em casa, as pessoas descansavam. Hoje, continuam no celular, respondendo e-mail, WhatsApp, rede social. Isso priva o sono, o lazer e altera a cognição do paciente”, explica.
O alerta vale especialmente às famílias com crianças pequenas. Camila observa um crescimento significativo de quadros ligados à irritabilidade, dificuldades de concentração e distúrbios do sono, especialmente nos jovens. “Vídeos curtos, por exemplo, liberam dopamina em níveis altíssimos. Nenhum medicamento compete com esse tipo de estímulo. E quanto mais cedo o contato com esse tipo de conteúdo, maior o impacto”, acrescenta a neurologista.
De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, os atendimentos a casos de ansiedade infantil no SUS aumentaram mais de 2.200% entre 2014 e 2024, saltando de cerca de 1.850, para mais de 24.000 atendimentos em crianças de 10 a 14 anos, e de 1.500 para mais de 53.000 em adolescentes entre 15 e 19 anos. Além disso, uma pesquisa recente feita na Alemanha, observou que crianças que passam mais de duas horas por dia em telas, apresentam cerca de 1,5 vez mais chance de desenvolver sintomas de TDAH em comparação aquelas que ficam menos tempo expostas.
Para Camila Batalha, é urgente que pais e responsáveis repensem o uso das telas no dia a dia e resgatem momentos de lazer fora do ambiente digital. “Há uma exposição excessiva, desde pequenos, levando ao prejuízo à saúde, não só por transtorno cognitivo, como também por transtorno de ansiedade, irritabilidade, atenção e até depressivo”, finaliza a médica.