BRUMADINHO 272

Bombeiro veterano e comandante em Brumadinho relata o que viu em livro

Atualmente como secretário de Serviços Urbanos, Anderson Passos foi um dos comandantes da operação de resgate de vítimas em Brumadinho

Rafaella Massa
Publicado em 08/01/2023 às 19:35Atualizado em 26/03/2023 às 18:22
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O secretário de Serviços Urbanos e Obras, Anderson Passos, participou da publicação de um livro sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, em janeiro de 2019. O caso é considerado pelas autoridades como o maior acidente de trabalho e também um dos maiores desastres ambientais do Brasil. 

Segundo o secretário, o livro está em fase final de produção e traz relatos de sobreviventes, familiares de vítimas, bombeiros, voluntários e muitas outras pessoas. Passos, então comandante do 8º Batalhão de Bombeiros Militar, liderou as buscas pelas vítimas do acidente. 

O livro leva o nome de ‘Brumadinho 272’ em homenagem às 272 vítimas do acidente e foi escrito por Passos e Luciana Quierati, jornalista que cobriu a operação.

“Esse livro, a ideia aconteceu durante o atendimento ao desastre. A gente percebeu que muito daquilo que estava sendo tratado ficaria esquecido na história. Porque o registro se trata de documentos burocráticos, de números. Mas o aspecto humano ficaria esquecido”, explica o secretário.

De acordo com Anderson Passos, aquele foi um momento de muita tristeza e um grande desafio profissional. Cerca de quatro mil bombeiros trabalharam nas buscas, que duraram anos. “Foi um momento extremamente triste, uma cidade toda abalada. A pior forma de aprender”, conta. 

Questionado se esta seria uma forma de externar as dores vistas e acolhidas naquele momento de intensa tristeza, Passos afirma que não tinha pensado na publicação desta forma, mas que não descarta que esse seja um expurgo das dores assistidas e vivenciadas. 

“Quem sabe foi uma tentativa de expiação. A gente viveu muitas tristezas lá e naquele momento a gente não podia compartilhar ou deixar se afetar demais pelas tristezas vistas e vividas. Então, talvez seja sim uma expiação das dores próprias e de terceiros. É uma maneira de tentar ao mesmo tempo fazer uma homenagem para as vítimas, não só aquelas falecidas, porque muitas vítimas foram feridas, muitas se viram sem condição por ter perdido parentes, por terem perdido seu sustento... E trabalhando lá, muito próximo de várias dessas vítimas e de vários de seus parentes, a gente percebeu como é doído uma situação como essa, uma região inteira, uma cidade pequena, de 39 mil habitantes, vivendo um luto muito intenso”, afirma.

O secretário ainda alerta para os estigmas que a população daquela localidade herdou devido ao acidente. “Hoje, quando você pergunta ou quando a pessoa diz que mora em Brumadinho, ou que ela é de Brumadinho, a próxima pergunta sempre vai no sentido do acidente”, relembra.

Segundo Anderson, o rompimento da barragem e reviver essas dores através do relatos fizeram com que ele colocasse suas próprias dificuldades em perspectiva. “A gente começa, de fato, a relativizar as próprias dores. A gente escuta tanta história tocante, tanta história de dificuldades que as pessoas passaram subitamente, a gente vai vendo que as nossas dores são pequenas frente a isso. É uma forma, muitas vezes impotente, de a gente tentar dar algum tipo de alento às famílias”, conta. 

Conforme o bombeiro, além de registrar para sensibilizar a população, o intuito do livro é conscientizar para que desastres como esses sejam evitados. No Brasil, ainda existem 187 barragens em estado crítico, sendo 66 somente em Minas Gerais. 

“A gente registra todas as humanidades e desumanidades que acontecem numa situação como essa para tentar dar uma dimensão menos técnica, seja ela jurídica ou de engenharia, mas dar uma visão humana do acontecido. Muitas situações são de bastidores e a gente achou importante registrar para sensibilizar a comunidade, os leitores, da gravidade de uma situação como essa para que, quem sabe, no futuro mais próximo possível, desastres como esse não aconteçam mais. Sejam prevenidos. Muito mais do que culpar os responsáveis pelo atual [acidente]  é salvar centenas ou quem sabe milhares de vítimas de outros eventos que possam já estar se configurando”, explica Anderson Passos.

O livro está na pré-venda, a preço de custo e o lucro das vendas será doado a instituições de caridade, em Brumadinho.  O lançamento oficial está previsto para março de 2023. 

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