Levantamento da Codau mostra que setembro teve 1,4 milhão de m³ consumidos, um salto acima da média histórica e em meio à pior estiagem dos últimos anos
Os dados apontam 1 milhão e 400 mil metros cúbicos, bem acima da média mensal, que gira entre 1.090 e 1.100 (Foto/Divulgação)
A Companhia Operacional de Desenvolvimento, Saneamento e Ações Urbanas (Codau) registrou em setembro deste ano o maior consumo de água da história de Uberaba. Segundo o presidente Rui Ramos, os dados apontam 1 milhão e 400 mil metros cúbicos, bem acima da média mensal, que gira entre 1.090 e 1.100. O aumento expressivo ocorre em um momento em que o rio Uberaba enfrenta forte comprometimento de vazão, prolongando pela segunda vez consecutiva o período de funcionamento do Plano de Contingenciamento da Seca.
Em entrevista ao Pingo do J, Rui disse que a situação é resultado da combinação entre menor volume de chuvas, temperaturas mais altas e crescimento populacional e econômico de Uberaba, fatores que têm elevado significativamente a demanda por água tratada. “Uma coisa muito importante, que às vezes nos esquecemos, é que Uberaba está crescendo muito. Já foi noticiado, inclusive, que a cidade bateu recorde em geração de empregos”, destacou.
Embora a transposição do rio Claro esteja operando no limite da outorga — cerca de 500 litros por segundo — e garantindo metade da água que chega à captação, o problema central está mesmo no rio Uberaba. Números apresentados pelo presidente da Codau revelam queda acentuada na precipitação na região nos últimos anos. Enquanto o acumulado anual ficou em torno de 1.300 e 1.400 milímetros, entre 2022 e 2024, o ano de 2025 registrou, até o momento, apenas 875 milímetros. “É uma diferença muito grande. Essa condição climática, consequência do aquecimento global, está atingindo Minas Gerais, o Brasil e o mundo todo. Está chovendo menos e a temperatura está cada vez mais alta”, afirmou.
Os dados da autarquia mostram que o Plano de Contingenciamento da Seca vem permanecendo ativo por períodos cada vez maiores. Em 2024, foram 72 dias de funcionamento, enquanto em 2025 o número já chegou a 107 dias. O mesmo ocorre com o sistema de transposição do rio Claro, que também vem sendo acionado por mais tempo. Em 2023, ele operou por 65 dias; em 2024, por 108 dias; e em 2025 a previsão é de que permaneça ligado por cerca de 150 dias.
O mês de novembro, que tradicionalmente apresenta bons volumes de chuva, praticamente “secou” em 2025, frustrando expectativas da autarquia. “Esse ano, o atípico foi novembro, porque realmente havia uma expectativa de chuva no mês. Vamos ver a previsão, tem uma chuva para hoje; aí ela começa a se deslocar na previsão, ia ser de manhã, passa para depois do almoço, passa para de noite e não vem, o vento leva”, explica Rui.
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Investimentos
O presidente da Codau defendeu ainda os investimentos feitos pela atual gestão, que somam aproximadamente R$ 70 milhões, incluindo perfuração de três poços, ampliação de 25% da capacidade de reservação e construção de novos centros. Segundo Rui, sem essas obras o desabastecimento seria crítico. “O pessoal critica, mas se não tivéssemos feito esses investimentos, a situação estaria calamitosa”, afirmou.
Com o rio Uberaba ainda extremamente fragilizado e o consumo em alta, Rui Ramos reforçou que a recuperação plena do sistema depende da regularização das chuvas e da colaboração da população para que evite desperdícios.