Kauê Furquim de 16 anos é uma das maiores promessas da base corintiana. (Foto/Reprodução/Instagram)
O mercado da bola brasileiro ganhou um novo capítulo de polêmica nesta quinta-feira (14). O Corinthians divulgou nota oficial acusando o Bahia e o Grupo City — controlador da SAF do clube baiano — de agirem de forma “ilícita e imoral” para contratar o meia Kauê Furquim, de 16 anos, uma das maiores promessas da base alvinegra.
O estopim foi o depósito, pelo Bahia, de R$ 14 milhões referentes à multa rescisória nacional do jogador. Apesar de a operação seguir o valor previsto em contrato para transferências internas, o Corinthians afirma que o real objetivo seria usar o clube baiano como intermediário para uma futura venda ao futebol europeu, driblando a multa internacional, estipulada em cerca de 50 milhões de euros (mais de R$ 315 milhões).
ACUSAÇÕES E ROMPIMENTO
Na nota oficial, o Corinthians afirma que não foi consultado sobre o interesse e acusa Bahia e Grupo City de articularem uma “trama” para burlar as regras de mercado. O texto repudia a negociação, classifica a ação como “subtração de talentos” e anuncia o rompimento de qualquer relação institucional com as duas entidades.
“Repudiamos, veementemente, o aliciamento ilícito e imoral do jogador Kauê Furquim, formado nas categorias de base do Corinthians, em trama envolvendo o City Football Group e o Esporte Clube Bahia. (…) Apelaremos à CBF e à FIFA para que a justiça seja feita”, diz o comunicado.
O QUE DIZ A LEI SOBRE A MULTA
No Brasil, a multa para transferências nacionais é limitada por lei a, no máximo, duas mil vezes o salário mensal do jogador, o que explica o valor relativamente baixo de R$ 14 milhões no caso de Kauê.
Já nas negociações com clubes estrangeiros, não existe esse teto, permitindo cifras muito mais altas — no contrato do meia, a multa internacional foi estipulada em 50 milhões de euros.
O Corinthians sustenta que o Bahia teria pago a multa nacional apenas para “abrir a porta” de uma transferência rápida ao exterior, aproveitando-se dessa diferença de valores.
SILÊNCIO DO BAHIA
Procurado pela imprensa, o Bahia preferiu não se manifestar sobre as acusações. O clube se limitou a confirmar que efetuou o pagamento da multa, procedimento legalmente previsto, mas não entrou em detalhes sobre a operação ou sobre o futuro do jogador.
HISTÓRICO DE ATRITOS
A tensão entre o Corinthians e outros clubes formadores já vinha de antes. Em janeiro deste ano, o time paulista foi expulso do Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB) após denúncia do Palmeiras, que o acusou de aliciar um atleta do sub-14.
Na ocasião, nove clubes — incluindo o Bahia — se posicionaram contra a permanência do Corinthians na entidade.
O Timão negou as acusações, chamou a decisão de “arbitrária” e afirmou seguir o código de ética do movimento.
IMPACTOS ESPORTIVOS E JURÍDICOS
O caso deve ganhar novos capítulos nos bastidores. No campo jurídico, o Corinthians promete acionar a CBF e até a FIFA, buscando comprovar que houve uso indevido da cláusula de rescisão. Caso haja provas, o Bahia e o Grupo City poderiam enfrentar sanções administrativas e esportivas.
No aspecto esportivo, o Timão perde um dos nomes mais promissores de sua base recente, enquanto o Bahia reforça seu elenco sub-20 com potencial de valorização futura.
MAIS UM CAPÍTULO NA DISPUTA POR TALENTOS
O episódio reacende o debate sobre a legislação brasileira de multas rescisórias para jogadores jovens e a vulnerabilidade dos clubes formadores frente a investidores e grupos multinacionais. Para muitos dirigentes, a lei, que visa proteger atletas menores de idade, acaba facilitando saídas precoces de talentos sem a devida compensação aos clubes que os formaram.