Em agosto, médicos legistas de Nova York conseguiram reconhecer três mortos da tragédia, mas passivo ainda é alto
Equipes buscam sobreviventes em meio aos escombros após a colisão dos aviões com os edifícios (Foto/AFP PHOTO POOL/Mike Segar)
O mundo recorda, nesta quinta-feira, 11 de setembro, o ataque terrorista capitaneado pela Al-Qaeda às duas torres gêmeas no complexo de World Trade Center, em Nova York. A ação, orquestrada por Osama bin Laden, terminou com a morte de 2.977 pessoas, deixando um rastro histórico de destruição. Passados 24 anos da tragédia, porém, um desafio persiste: a identificação das mais de 1.100 vítimas que perderam a vida - sem ainda ter os nomes conhecidos - após o sequestro das quatro aeronaves pelo grupo terrorista.
Apesar do passar do tempo, um grande desafio persiste: identificar as mais de 1.100 vítimas cujos nomes ainda não foram oficialmente reconhecidos. O chefe do Laboratório de DNA da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), Giovanni Vitral, responsável pelo trabalho de reconhecimento às quase três centenas de mortos no rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, diz que há caminho para se chegar aos nomes ainda desconhecidos, apesar da complexidade do trabalho.
Em agosto, a prefeitura de Nova York anunciou que a equipe de peritos identificou restos mortais de três vítimas dos ataques terroristas por meio de tecnologia de DNA e contato com familiares. Um dos médicos legistas que atua no caso, inclusive, afirmou que o trabalho seguirá mesmo com o passar do tempo para dar resposta às famílias.
“Em vítimas de acidentes mais recentes, a chance de conseguirmos resultados positivos é muito maior. Mas existem metodologias que permitem, sim, a identificação de restos mortais, ou seja, a extração do DNA e a identificação de vítimas de acidentes mais antigos. Mas com o passar do tempo essa análise se torna mais difícil e complexa”, atestou o chefe do Laboratório de DNA da Polícia Civil de Minas.
Giovanni Vitral explicou que em casos como a tragédia do 11 de setembro, as análises para identificação são feitas a partir de fragmentos de restos mortais encontrados. “Mas esses fragmentos, para que sejam identificados, precisam estar inteiros. Com o passar do tempo, esses fragmentos vão se quebrando e se tornando cada vez menores. Porque a ação do tempo, da chuva, do calor e de vários outros contaminantes contribuem para quebrar e degradar esses fragmentos. E quando eles estão muito quebrados, não é possível identificar nas metodologias mais comuns”, detalhou.
O perito salientou que a depender do caso é preciso aplicar novas metodologias para garantir melhores resultados. “Não estou dizendo que para as vítimas do 11 de setembro já tenhamos chegado a esse ponto, porque não tenho contato com essas amostras. Mas às vezes a gente pega ossadas mais antigas, da década de 90, e já temos dificuldades em obter esse DNA íntegro para permitir essa identificação”, sublinhou Giovanni.
A partir das análises do DNA, o trabalho de reconhecimento segue com o cruzamento dos dados obtidos com amostras de familiares a partir do banco de perfis genéticos. “Quando eu recebo um resto mortal, mas já tem uma família reclamando daquele resto mortal, eu já faço um cruzamento direto com a família para obter o resultado. Mas existe aquela situação em que se tem o resto mortal, mas que não se tem nem ideia de quem seja a família. Então, a gente faz a extração do DNA do resto mortal e coloca no banco de dados genéticos para tentar encontrar uma família”, complementou.
Investimento é peça crucial
Para o chefe do Laboratório de DNA da Polícia Civil de Minas, o investimento em tecnologias e equipamentos que permitam o aprofundamento em metodologias de reconhecimento de vítimas em tragédias de grande impacto deve ser contínuo. No Estado, além do trabalho para chegar a identificação das 270 pessoas que morreram após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, ele citou o acidente entre um ônibus e uma carreta, na BR-116, em Teófilo Otoni, em dezembro de 2024, como outro caso desafiador.
A colisão deixou 41 mortos e os corpos foram carbonizados, o que tornou a perícia mais complexa. “Acidentes em massa vão ocorrer. Não sabemos quando e nem onde. Mas um acidente de ônibus, avião, a queda de um edifício são episódios que vão sim acontecer e precisamos estar preparados em termos de protocolos, pois a magnitude do acidente já traz um problema muito grande”, finalizou.
Fonte: O Tempo