
Febre oropouche é transmitida por mosquitos (Foto/Pixabay/francok35)
Os casos de febre Oropouche dispararam 387% entre 2024 e 2025 em Minas Gerais. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que, até 16 de dezembro, já foram confirmados 1.467 casos da doença. O número é quase cinco vezes maior que o registrado em todo o ano passado, quando o Estado somou 301 diagnósticos. O aumento alarmante já faz com que a pasta adote medidas para intensificar as ações de monitoramento e enfrentamento à doença.
O aumento também ocorre em outras regiões do país. Segundo o Ministério da Saúde, no primeiro semestre, o Brasil contabilizou 11.805 casos e cinco óbitos, sendo um no Espírito Santo e quatro no Rio de Janeiro. Até o momento, não há registros de óbitos pela doença em Minas.
Em nota, a SES-MG informou que está em andamento uma avaliação do cenário epidemiológico, em conjunto com as Unidades Regionais de Saúde, para definição de estratégias específicas de combate à febre Oropouche. Entre as medidas já adotadas estão a implementação da vigilância sentinela para detecção precoce de casos e o monitoramento contínuo de notificações suspeitas e confirmadas.
A SES também tem realizado visitas técnicas a municípios com registros da doença, promovido o mapeamento de focos de transmissão e emitido orientações sobre medidas de contenção, além de fortalecer a vigilância. “Com foco na investigação e na capacitação das equipes dos profissionais de saúde municipais e estaduais, visitas técnicas aos municípios com registro de casos, para apoio nas ações de vigilância e controle, mapeamento de possíveis focos de transmissão e orientações quanto a medidas de contenção, emissão de alertas e informes epidemiológicos periódicos”, informou a secretaria.
A febre Oropouche foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1960 e é causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus. Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no país, sobretudo na região amazônica, considerada endêmica. A transmissão é feita pelo mosquito-pólvora (veja mais abaixo).
Os sintomas da doença são parecidos com os da dengue e incluem dor de cabeça intensa, dores musculares, náusea e diarreia. O médico Mariano Fagundes, professor de Saúde Coletiva e Clínica Médica na UnifipMoc Afya, explica que, devido à semelhança entre as enfermidades, a maioria dos diagnósticos de Oropouche só ocorre de forma secundária, quando o exame para dengue dá negativo e se recorre ao PCR para arboviroses.
“Na ausência de antivirais específicos, o manejo hospitalar recai sobre o tratamento de suporte. Por isso, dependemos de medicações vasoativas, suporte respiratório e profilaxia para tromboembolismo para melhorar a sobrevida desses pacientes”, reforça o especialista.
Risco às grávidas
A gravidade dos episódios, ainda que rara, pode incluir meningite, encefalite, miocardite e complicações hepáticas, além de quadros crônicos que se estendem por mais de um mês e podem provocar malformações fetais e abortos, semelhantes aos observados no Zika vírus. Por isso, especialistas recomendam atenção redobrada às gestantes. Entre os cuidados estão o uso de repelentes à base de icaridina e o isolamento leve para pacientes sintomáticos — medidas que complementam o controle vetorial contra o Aedes aegypti e outras espécies, como o maruim.
Para a nutróloga da Afya Educação Médica de Montes Claros, Dra. Juliana Couto, a nutrição desempenha papel essencial no fortalecimento das defesas do organismo. “Episódios repetidos de diarréia e inflamação intestinal aumentam a permeabilidade da mucosa, favorecendo sensibilizações a proteínas de alimentos comuns e ampliando o risco de alergias”, afirma. Ela recomenda, ainda, dietas leves, ricas em vitamina C, zinco, ferro e probióticos naturais para restabelecer a flora intestinal e reduzir a recorrência de processos inflamatórios.
Ministério da Saúde testa inseticida para controle do vetor
O Ministério da Saúde garante que tem reforçado o monitoramento dos casos de Oropouche por meio de reuniões periódicas e visitas técnicas aos estados, com foco na notificação, investigação e encerramento de casos, além da divulgação de orientações sobre vigilância e prevenção.
Em parceria com a Fiocruz e a Embrapa, a pasta também realiza estudos sobre o uso de inseticidas para o controle do vetor, com "resultados preliminares promissores". “As evidências apoiam a definição de estratégias de enfrentamento da doença, especialmente durante surtos, e a redução de seu impacto na população”, afirma.
Transmissão
A transmissão do vírus Oropouche ocorre principalmente por meio de um inseto popularmente conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Após picar uma pessoa ou animal infectado, o vírus permanece no inseto por alguns dias. Quando este vetor pica uma pessoa saudável, pode transmitir o vírus.
Segundo o Ministério da Saúde, existem dois ciclos distintos de transmissão da doença. No ciclo silvestre, bichos-preguiça e primatas não humanos — e possivelmente aves silvestres e roedores — atuam como hospedeiros. Há também registros de isolamento do vírus em outras espécies de insetos, como Coquillettidia venezuelensis e Aedes serratus.
Já no ciclo urbano, os seres humanos tornam-se os principais hospedeiros. Nessa dinâmica, além do Culicoides paraensis, o mosquito Culex quinquefasciatus — conhecido como pernilongo e comum em áreas urbanas — também pode ser vetor da doença.
Veja formas de prevenção:
Fonte: O Tempo