Parcela de jovens que bebem álcool três ou mais vezes por semana caiu de 10,7% para 8,1% no Brasil desde o período pré-pandemia
Virar a noite bebendo álcool é coisa de jovem? Talvez essa máxima esteja caindo em desuso entre parte da geração Z, que engloba os nascidos entre 1995 e 2010. Dados de 2023 mostram que a parcela de jovens de 18 a 24 anos que bebem álcool três ou mais vezes por semana caiu de 10,7% para 8,1% desde o período pré-pandemia. As informações são do Relatório Covitel e a pesquisa foi feita com 9 mil pessoas de capitais e cidades do interior das cinco regiões do Brasil.
Enquanto isso, pela primeira vez, pessoas de 45 a 54 anos (9,1%) e de 55 a 64 anos (8,7%) superaram os mais jovens no consumo regular de álcool no mesmo período.
Já o estudo Brand Footprint Brasil 2025, da Worldpanel by Numerator, empresa internacional que atua no conhecimento e nos insights do consumidor, aponta que entre agosto e dezembro de 2024 houve uma queda de 1,1 milhão de consumidores de cerveja em comparação ao mesmo período do ano anterior. O consumo é liderado por millennials (nascidos entre 1981 e 1996), geração X (1965 a 1980) e baby boomers (1946 a 1964), que juntos representam mais de 70% das ocasiões.
De acordo com Silvia Durazzo Hees, gerente de novos negócios da Worldpanel by Numerator, alguns motivos explicam essa redução do consumo de álcool, principalmente de cerveja, entre parte da população mais jovem.
“Há uma preocupação maior com bem-estar, saúde e atividades físicas. É crescente a busca pelo corpo perfeito, não é por acaso que as canetas emagrecedoras, por exemplo, fazem tanto sucesso hoje. Isso não engloba somente as bebidas, também reflete na busca por alimentos com menos sódio ou zero caloria”, avalia.
Em outros países, a queda no consumo de cerveja entre os mais jovens já traz impactos na economia. A cervejaria alemã Lang-Bräu fechou as portas no ano passado, após 172 anos de história, ao identificar que não teria condições de investir €12 milhões (cerca de R$ 72 milhões) em modernização para continuar suas atividades.
Apesar deste cenário, representantes do setor cervejeiro no Brasil não acreditam que a geração Z possa causar uma quebra das empresas. Gustavo Castro, diretor de estratégia e insights da Ambev, aponta que o comportamento dos mais jovens em relação ao consumo de cerveja segue padrão semelhante ao das gerações anteriores quando estavam na mesma fase da vida.
"A diferença está ligada a fatores econômicos e de estágio de vida. Muitos ainda estudam, moram com os pais e têm menor renda disponível, o que reduz a frequência de consumo, mas não indica mudança estrutural no hábito", diz.
Os números mostram que, de fato, não é possível cravar de maneira absoluta que o jovem está bebendo menos. O mesmo Relatório Covitel mostra que o consumo abusivo de álcool (cinco doses ou mais em uma mesma ocasião, para homens, e quatro doses ou mais, para mulheres) aumentou entre jovens de 18 a 24 anos - passando de 25,8% em 2022, para 32,6% em 2023. Menos jovens estão bebendo, mas quem bebe aumentou o consumo.
“A cerveja é símbolo de celebração, socialização e está presente em todos os cantos do país, gera conexão entre as pessoas e é um importante motor econômico no Brasil, do campo ao copo. Por isso, estamos confiantes na resiliência da categoria e vemos espaço para continuar crescendo”, acrescenta Gustavo Castro.
"Hard seltzer": uma alternativa à cerveja
Não é apenas na Alemanha que o consumo de cerveja entre os jovens caiu. Nos Estados Unidos, pesquisa da consultoria Statista mostra que a geração Z consome menos cerveja e vinho do que todas as gerações que os precedem. Eles ganham dos baby boomers e da geração X apenas no consumo de "hard seltzer", um tipo de bebida gaseificada com álcool. Para esse levantamento, também divulgado em 2023, foram entrevistadas 10 mil pessoas.
De olho nessa tendência, empresas de BH usam da criatividade para atrair o público mais jovem. Um dos destaques deste mercado é a Lambe Lambe, fundada em 2020, que oferece drinks fermentados à base de frutas. De acordo com a sócia Kaká Campos, pesquisas internas mostram que 60% do público pertence à Geração Z.
“São bebidas naturais, sem conservantes e com teor alcoólico de 6%, um índice menor em comparação a outras bebidas. São fatores que atraem jovens cada vez mais preocupados com a saúde. Além disso, o preço é acessível para um tipo de cliente que, geralmente, tem um ticket médio mais baixo”, explica a empresária.
Hoje, a marca já está presente em três espaços físicos da cidade - Mercado Novo, Galeria São Vicente e Savassi - e também comercializa as versões enlatadas em diversos estabelecimentos. De acordo com Kaká, a marca fatura cerca de R$ 1 milhão por mês com a venda das bebidas.
“Estamos em processo de expansão. Vamos abrir duas novas unidades neste ano, uma em Vitória e outra no Rio de Janeiro. Também está prevista uma nova loja em São Paulo para 2026. Estima-se que esse mercado das bebidas mistas deve crescer 300% nos próximos cinco anos”, aponta.
Mocktails sofisticam o zero álcool
Uma pesquisa de março deste ano, coordenada pela martech MindMiners, mostrou que 52% dos brasileiros da geração Z preferem não consumir bebidas alcoólicas. Entre eles, 6% optam por cervejas sem álcool e outros 6% preferem drinques sem álcool - os chamados mocktails.
O nome é a junção de "mock" (que significa imitação, falso) e "cocktail" (coquetel). Este termo engloba uma variedade de bebidas que imitam os coquetéis tradicionais, mas sem a adição de bebidas alcoólicas.
Em BH, o Cabernet Butiquim oferece seis tipos da bebida - apesar do nome do estabelecimento fazer referência à boemia. O destaque vai para o “Boca de Groselha” - que, por incrível que pareça, não leva o ingrediente citado. A bebida leva soda de frutas negras, com limão siciliano e espuma de baunilha. De acordo com o mixologista Alexandre Loureiro, essa complexidade de ingredientes e processos é o que mais atrai o público que não consome álcool.
“Foi-se o tempo em que suco de frutas ou água eram as únicas opções para esse público. As pessoas querem socializar e tirar fotos, então ter algo com boa apresentação ajuda a atrair a clientela”, explica.
Ele também aponta que esse tipo de bebida se encaixa em várias ocasiões. “Tem gente que não pode ingerir álcool por questões de saúde, enquanto outras pessoas estão preocupadas com o aspecto fitness ou foram escolhidas para ser o motorista da rodada. É um tipo de bebida que evita a quebra da rotina. Você pode curtir um bar na terça-feira e não vai acordar com ressaca para treinar no dia seguinte”, exemplifica.
O fator financeiro também torna a bebida mais “fácil de digerir”. Diferentemente de drinks tradicionais, que têm custo mais elevado, os mocktails do Cabernet Butiquim custam entre R$ 19 e R$ 21. “O que eleva o custo de um drink é justamente o álcool. Quando você tira isso da equação, temos um produto mais acessível ao público”, aponta Alexandre.
Fonte: O Tempo.