Setor de calçados deve ser um dos impactados pelo tarifaço (Foto/Pexels)
Não são apenas as grandes empresas que estão temerosas diante do tarifaço de Donald Trump. Além de setores como alumínio, café e carne bovina, os pequenos empreendedores também estão em estado de alerta após o presidente dos Estados Unidos decretar as taxas de 50% sobre produtos brasileiros. Marcelo de Souza e Silva, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, alerta que o momento é de atenção e planejamento.
“Pode até ser que, em um primeiro momento, os pequenos não sejam tão afetados como os grandes. Mas, a médio e a longo prazo, todos devem ter seus negócios afetados. Estimamos que haverá redução de compra de insumos e de exportações para os pequenos empresários”, diz.
Apesar de não apresentar projeções ou estimativas sobre as perdas, Marcelo avalia que as consequências do tarifaço também vão atingir os pequenos negócios, uma vez que eles têm “uma estrutura menos robusta” e mais vulnerável à mudanças dessa magnitude.
“O pequeno empreendedor tem sustentabilidade frágil. Muitas vezes ele não tem caixa ou trabalha com fluxo de caixa reduzido. Ele vai produzindo, vai vendendo e vai reinvestindo no negócio. Muitos também não vão conseguir acessar crédito porque já estão devendo algum empréstimo anterior”, analisa.
Um dos exemplos dados por Marcelo é a produção de calçados, principalmente em Nova Serrana, na região Centro-Oeste, um grande polo industrial do produto. Segundo ele, o tarifaço pode, inclusive, gerar desempregos a longo prazo. Ao não exportar para os EUA, o setor de calçados mineiro pode, inclusive, travar uma “batalha interna” contra produtores de outros estados - o que acarretaria perdas gerais.
De acordo com Patrícia Rajão, gerente do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), empresas mineiras que não vendem seus produtos para os Estados Unidos temem que os concorrentes, principalmente do Rio Grande do Sul, outro grande polo calçadista, deixem de exportar, gerando uma reação em cadeia. Com parte do mercado externo inviabilizada, esses empreendimentos podem voltar a atenção para o mercado brasileiro, impactando os negócios mineiros.
“Em geral, as empresas mineiras de calçados não têm um perfil de exportação para os Estados Unidos. No entanto, muitos empresários estão preocupados com o fato de que o Sul do país, que exporta muito, se volte para o mercado interno. Com isso, a disputa ficará muito grande”, diz ela.
Em busca de soluções
Diante da perspectiva pessimista, Marcelo de Souza e Silva garante que o Sebrae já tem feito um movimento de conscientizar os pequenos empresários sobre como podem enfrentar este momento de turbulências.
“Uma das orientações é sobre gestão operacional. Se isso já era importante para os pequenos, agora é mais essencial do que nunca fazer uma boa administração dos negócios. Também orientamos sobre como reduzir custos, mas com cautela, e sobre como buscar mercados internos, mas tendo em mente que os lucros serão menores”, aponta.
Sobre a busca de novos mercados internacionais, uma alternativa aos EUA, ele esclarece que esse movimento não é possível de ser feito de uma hora para outra. “É preciso entender a exigência de cada mercado. O que é aceito nos EUA não necessariamente é aceito da mesma forma na Europa ou Ásia, por exemplo. Os empreendedores precisam se preparar e buscar informações”, aconselha.
O governo federal também já tem articulado medidas para proteger os pequenos negócios. Nessa terça-feira (29/7), foi sancionada a Lei Complementar nº 216/2025, que institui o Programa Acredita Exportação com o objetivo de incentivar as exportações brasileiras, especialmente de microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional.
A medida busca facilitar o acesso dos pequenos negócios aos mercados internacionais, com a devolução de valores que antes se acumulavam como créditos não recuperáveis, aumentando a competitividade dos exportadores de menor porte.
Fonte: O Tempo