
Embora a base eleitoral formal esteja em BH, é no Triângulo Mineiro, especialmente em Uberaba, que Eduardo Cunha vem estruturando seu principal eixo de atuação e presença pública (Foto/Reprodução)
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha oficializou, nesta semana, sua mudança de domicílio eleitoral para Belo Horizonte. Desde a última terça-feira (9), o político de 67 anos tem como zona eleitoral um colégio da Savassi, área nobre da capital mineira, de onde pretende articular seu retorno à Câmara dos Deputados nas eleições de 2026. A filiação partidária, porém, ainda é incerta. Cunha tem até 4 de abril para definir em qual legenda disputará o pleito.
Embora a base eleitoral formal esteja em BH, é no Triângulo Mineiro, especialmente em Uberaba, que Eduardo Cunha vem estruturando seu principal eixo de atuação e presença pública. O município tem sido um dos palcos mais frequentes da movimentação política e empresarial do ex-deputado. Nos últimos meses, ele multiplicou aparições em Uberaba, buscando consolidar apoio regional e se aproximar de setores estratégicos, como o agronegócio e o público evangélico. Ele, inclusive, esteve presente em diversos eventos do Agro, como a Expozebu. Na região, Cunha foi presença em culto em Araxá, ao lado do apóstolo Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial.
Uberaba passou a integrar o projeto de expansão das rádios evangélicas administradas por Cunha e seu entorno político. No início do ano, ele adquiriu emissora em Uberaba e a rebatizou como Rádio Maravilha, repetindo o nome de sua emissora gospel aberta no Rio de Janeiro em 2024. A emissora faz parte de uma rede que inclui outras quatro estações mineiras nas cidades de Além Paraíba, Carangola, Raul Soares e Guarani. Todas operam em nome de Daniel Cardoso Sá, genro de Cunha e marido da deputada federal Dani Cunha (União-RJ).
A Rádio Maravilha chegou a anunciar patrocínio ao Uberaba Sport Club, que disputou o Módulo II do Campeonato Mineiro. Cunha gravou um vídeo direcionado à torcida colorada, uma das medidas que reforça a estratégia de inserção do político em símbolos locais de forte apelo comunitário.
Mesmo com a clara estratégia de se enraizar no Triângulo Mineiro, Cunha fixou residência em Belo Horizonte, em um prédio na Savassi que também funciona como escritório político. Lá, recebe autoridades estaduais, parlamentares federais, lideranças evangélicas e representantes do agronegócio. Filiado atualmente ao Republicanos, Cunha tem conversado com dirigentes do PL, incluindo Valdemar da Costa Neto, sobre eventual candidatura pela sigla.
Quem é Eduardo Cunha
Eduardo Cosentino da Cunha, 67 anos, é ex-presidente da Câmara dos Deputados e um dos nomes mais controversos da política brasileira. Economista, iniciou sua trajetória no Rio de Janeiro, onde construiu base junto ao eleitorado evangélico e ao controle de rádios religiosas, estrutura que o impulsionou à Câmara Federal em 2002. Seu auge político veio em 2015, à frente da presidência da Câmara, quando rompeu de vez com o governo Dilma Rousseff (PT).
Em dezembro de 2015, Cunha autorizou o andamento do pedido de impeachment contra Dilma. Ele presidiu a histórica sessão de 2016, marcada pela frase “Que Deus tenha misericórdia desta nação”. Pouco depois, sua derrocada foi rápida: afastado pelo STF em maio de 2016, cassado pela Câmara em setembro e preso um mês depois. Cunha foi preso preventivamente em outubro de 2016, por ordem do então juiz Sérgio Moro, devido ao risco de obstrução de Justiça. Detido inicialmente em Curitiba, foi posteriormente transferido para o Complexo de Bangu, no Rio, onde permaneceu em regime fechado.
Cunha cumpriu quase três anos e meio de prisão até passar à prisão domiciliar em março de 2020. Com decisões posteriores do STF anulando processos da Lava Jato, recuperou espaço político e voltou a disputar eleições — fracassando em São Paulo em 2022. Desde 2024, concentra sua rearticulação em Minas Gerais, investindo em rádios evangélicas e ampliando presença no Triângulo Mineiro como parte de seu novo projeto eleitoral para 2026.