ARTICULISTAS

Vida em modo turbo

Vinícius Silva
@mealugoparaouvirhistorias
Publicado em 24/04/2024 às 19:46
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Já faz tanto tempo que eu não apareço por aqui que eu nem sei se o editor-chefe se lembra de mim e se este texto será publicado. Há quase um mês, eu me mudei de cidade. E junto comigo, toda a roupa suja, que eu não coloquei na mala, fez questão de me acompanhar. Além de tentar esquecer as manchas do passado, tento me adaptar ao novo lugar, tento descobrir como exterminar os cupins do armário planejado no meu quarto, como conter o vazamento da descarga do vaso sanitário e ainda como fazer meu cachorro entender que o alarme, que soa da trava de segurança, da nova máquina de lavar, não nos coloca em perigo. Nesse turbilhão de coisas, sinto que sou o emaranhado de tecido, nada delicado, que precisa ser limpo, com o nível de água quase transbordando. Enquanto eu giro lá dentro, gritando por causa do modo turbo que me sacoleja em sistema ciclone, meu cachorro continua a latir e o botão avançar da minha vida e dos outros é pressionado. Somente quando estou de molho é que eu percebo que gostaria de viver mais a primeira gravidez da Gabi; de ser um guia turístico melhor para a Lílian; de vibrar mais com os relacionamentos do Reno, do Caniello e do Victor; de participar mais das conquistas do Paim, da Nathy, da Paulline, da Ana Laura e da Lúbia; de ser mais presente no grupo do WhatsApp (e para além dele) com a Amanda, Mirella e Mavi; de encurtar a distância até o Guga; de ter a certeza que conseguirei visitar em breve a Manu, a Basak e a Roberta, fora do país; de estar ao vivo e a cores, fora da TV, com a Loise, Allana, Tici e Diandra ou ainda de viver para além das pautas com a Renata, Lílian, Carol, Raiane, Ana Paula, Rona, Alanys e Jair. Se faltou alguém acima, culpem o meu cérebro, que está molhado demais para pensar. O peso das minhas exigências e angústias para caber em mim mesmo e nas pessoas que me rodeiam, no momento, supera os 14 quilos marcados na lavadora. Enquanto me afogo em meio ao sabão em pó, que insiste em me atravessar, eu me lavo e enxáguo com novas possibilidades de ser diferente na próxima etapa. Estou tentando ser, no mínimo, funcional, mesmo enquanto a vida parece me centrifugar. Até o meu cachorro se acalmar e perceber que nem todo som é barulho, continuarei a ser aquela criança que fica com o rosto colado no vidro da máquina de lavar, assistindo impressionada ao remelexo e às voltas que a vida dá. Amigos, isso é um pedido de desculpas! Eu consigo ver e sentir tudo o que acontece com vocês. Só que eu não consigo sair daqui por enquanto. Alguém deve ter esquecido de apertar o botão de lavagem rápida, porque isso está demorando demais. Quando tudo acabar, me tirem daqui e me coloquem para secar em um sol escaldante. Não me alisem com um ferro elétrico. Andar amarrotado é a nova moda e as cicatrizes enrugadas não vão deixar eu esquecer o que passou. Também não me dobrem, já estive compactado e do avesso por tempo demais. Apenas me vistam e me usem de todas as formas. Eu estarei pronto para sairmos juntos por aí bem lindos, frescos e cheirosos.

 Vinícius Silva

Uberabense, jornalista e um apaixonado pela arte de ouvir e contar histórias

@mealugoparaouvirhistorias

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