Entre 2015 e 2020, aproximadamente 87 mil mulheres foram submetidas à mastectomia e apenas 17.927 receberam reconstrução mamária, representando aproximadamente 20% do total (Foto/Divulgação)
Dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) revelam uma discrepância alarmante no acesso à reconstrução mamária no Brasil. Entre 2015 e 2020, aproximadamente 87 mil mulheres foram submetidas à mastectomia, mas apenas 17.927 receberam reconstrução mamária, representando aproximadamente 20% do total. Esse índice, apresentado pelo mastologista Cléber Sérgio, em entrevista ao JM, está abaixo do ideal, considerando que a reconstrução das mamas é um direito garantido por lei e essencial para a recuperação física e emocional das pacientes.
Cléber, que é coordenador do projeto "À Flor da Pele", destacou que, além da limitação no número de procedimentos, muitos casos de câncer de mama, aproximadamente 40%, são diagnosticados em estágios avançados. Esse diagnóstico tardio resulta em tratamentos mais agressivos, como quimioterapia e radioterapia, que podem comprometer a qualidade da pele e dificultar a realização da reconstrução mamária imediata.
“Quanto mais avançada a doença, maior a sequela do tratamento. Então, muitas vezes, além de ter que retirar as mamas, essa mulher precisa passar por uma quimioterapia, que demora cerca de 4 a 5 meses. Ela também pode precisar passar pela radioterapia, que são mais uns 30 dias, em média. O que a gente fala é que há modificações no tecido muito grandes. Então, o recomendável seria a reconstrução em torno de seis meses após a conclusão do tratamento oncológico”, explicou Cléber.
Além disso, fatores como a disponibilidade de profissionais capacitados, infraestrutura adequada e recursos financeiros limitados contribuem para a baixa taxa de realização desses procedimentos. O especialista alertou que a ausência de reconstrução mamária pode impactar negativamente a autoestima e a qualidade de vida das mulheres que enfrentaram o câncer de mama.
“A gente está falando de um universo de cerca de quase 70 mil mulheres que nos últimos cinco anos tiveram a mama retirada e não foi reconstruída. A cada meia hora a gente tira uma mama no Brasil, por diversos fatores. E não é apenas a perda física. Junto com a mama vão memórias afetivas, momentos de intimidade e experiências como a amamentação. A reconstrução traz a capacidade de reflorescer e se recriar, permitindo que a mulher troque cicatrizes de dor por cicatrizes de esperança”, concluiu o médico.