Compromisso firmado na conferência pode ampliar demanda por etanol, SAF e biometano, favorecendo o polo sucroenergético de Uberaba
A COP30, realizada em Belém entre 10 e 21 de novembro, marcou um passo inédito para os biocombustíveis. Um grupo de 23 países, liderado pelo Brasil, assinou o Acordo Belém 4x, que estabelece a meta de quadruplicar o uso global de combustíveis sustentáveis até 2035. Para o presidente da Associação das Indústrias da Bioenergia e do Açúcar de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), Mário Campos, que participou das negociações, o pacto cria um cenário estratégico especialmente promissor para Uberaba, que em 2025 foi apontada pelo IBGE como a maior produtora de cana-de-açúcar do país.
Segundo Campos, o acordo fortalece o papel do etanol na transição energética global, mesmo em uma COP cujo documento final não mencionou a eliminação dos combustíveis fósseis devido à resistência de potências como China, Índia e países árabes. “Apesar da omissão, a COP abriu uma porta importante: os biocombustíveis foram reconhecidos como solução escalável, econômica e ambientalmente viável”, destaca.
O que prevê o Acordo Belém 4x
O pacto firmado pelos 23 países reúne compromissos que podem ampliar a demanda por etanol e derivados da cana em todo o mundo. Entre os principais pontos, estão:
Etanol, SAF e biometano: novas fronteiras
Entre os países que assinaram estão: Armênia, Belarus, Brasil, Canadá, Chile, Guatemala, Guiné, Índia, Itália, Japão, Maldivas, México, Moçambique, Myanmar, Países Baixos, Panamá, Coréia do Norte, Sudão e Zâmbia
Na COP, o Brasil também comemorou os 50 anos do Proálcool, reforçando sua liderança na descarbonização de veículos leves. Campos lembrou que o etanol — hoje um combustível de baixíssima emissão — avança para a neutralidade de carbono com tecnologias como captura de CO₂ e uso de biometano nas operações agrícolas.
Outro ponto em destaque foi o potencial da cana como insumo para combustível sustentável de aviação (SAF) e combustível marítimo, setores que devem ter forte crescimento após o Acordo Belém 4x.
O biometano, gerado a partir de resíduos da cana, também ganhou relevância. Cidades como São Paulo já anunciaram frotas de ônibus movidas a biometano, e municípios do Triângulo Mineiro estudam modelos semelhantes. O programa nacional Combustível do Futuro estabelece uso obrigatório do gás renovável a partir de 2026.
Impacto para Uberaba
Com forte presença industrial e reconhecida como campeã nacional na produção de cana, Uberaba reúne condições de se transformar em hub de biocombustíveis e energias limpas. O avanço de mercados internacionais, a ampliação de rotas verdes e a demanda por etanol, biometano e SAF podem atrair novos investimentos e fortalecer toda a cadeia sucroenergética regional.
“Quem participa dessa construção sai na frente. O acordo mostra que o mundo caminha para mais biocombustíveis — e o Triângulo Mineiro tem tudo para liderar esse movimento”, conclui Campos.