O Grito dos Excluídos é uma mobilização nacional criada em 1995 a partir de discussões realizadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o objetivo de dar visibilidade a demandas de grupos historicamente marginalizados (Foto/Arquivo)
A realização do 31º Grito dos Excluídos e Excluídas, programado para domingo (7), às 8h30, na Praça Nossa Senhora da Abadia, gerou tensão entre o Sindicato dos Produtores Rurais de Uberaba e a Arquidiocese Metropolitana. O motivo do atrito é a participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entre os organizadores do evento, que também conta com a presença de sindicatos, movimentos populares e do Fórum dos Trabalhadores.
Em nota oficial divulgada no dia 1º de setembro, o Sindicato dos Produtores Rurais repudiou a associação da Arquidiocese com o MST, que classificou como “movimento ilegal e terrorista”. O sindicato afirma que a participação da Igreja Católica em um evento com esse tipo de parceria é “inadmissível” e representa uma ameaça à propriedade privada, à segurança no campo e à harmonia social. A nota também acusa a Arquidiocese de fomentar a divisão entre classes e de se afastar de sua missão religiosa de promover a união.
O Grito dos Excluídos é uma mobilização nacional, criada em 1995 a partir de discussões realizadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o objetivo de dar visibilidade a demandas de grupos historicamente marginalizados. A escolha do dia 7 de setembro busca ser um contraponto simbólico ao Grito da Independência, levantando pautas que, segundo os organizadores, são “sufocadas ou ignoradas pela sociedade e pelo poder público”.
A edição de 2025 em Uberaba traz como tema “Cuidar da casa comum e da democracia é luta de todo dia” e aborda temas como a taxação de grandes fortunas, o fim da jornada 6x1, a crítica ao chamado “tarifaço estadunidense”, a oposição às escolas cívico-militares e o apoio à causa palestina.
A posição da Arquidiocese em relação a essas pautas também gerou reações no campo político. O vereador Cabo Diego Fabiano (DC) se manifestou nas redes sociais, criticando a participação da Igreja Católica em um evento que, segundo ele, defende “pautas puramente político-partidárias”. O parlamentar demonstrou especial descontentamento com a crítica às escolas cívico-militares, defendendo o modelo como “um projeto que traz disciplina, patriotismo, ordem e disciplina aos nossos jovens”.
Arquidiocese diz se tratar de ato cívico revestido de caráter social
Questionada, a Arquidiocese preferiu não comentar a reação do Sindicato e do vereador, mas divulgou matéria sobre o evento, que será realizado na praça Nossa Senhora D’Abadia, no próximo 7 (domingo), às 8 horas. O 31º Grito dos Excluídos e Excluídas tem como tema “Cuidar da casa comum e da democracia é luta de todo dia”, com forte apelo para a defesa da Soberania Nacional.
A tradicional manifestação cívica, este ano, também se reveste de caráter profundamente social e solidário, com a realização de uma “Pamonhada Popular”, simbolizando o cuidado com a casa comum e a luta diária da população. O evento é organizado por ampla frente, que inclui a Arquidiocese de Uberaba, o MST, o Fórum dos Trabalhadores e diversos sindicatos e movimentos sociais.
A agenda reivindicatória reflete as urgências nacionais e locais, defendendo o fim da jornada de trabalho 6x1, um modelo exaustivo que impacta diretamente a saúde do trabalhador e a estrutura familiar, e também a taxação das grandes fortunas surge como contraponto à injustiça fiscal que sobrecarrega os mais pobres.
O ato se posiciona, ainda, contra o “tarifaço” estadunidense, denunciando pressões econômicas externas, e se solidariza internacionalmente com o povo palestino. Também constitui objeto da iniciativa a rejeição à implantação de escolas cívico-militares, modelo contestado por entidades educacionais.
Pautado pela defesa de condições de trabalho justas que encontram eco na visão bíblica do labor como fonte de dignidade, e não de opressão, o 31º Grito dos Excluídos reforçará a luta pelo fim da jornada exaustiva 6x1 e reivindicará o direito ao descanso e à convivência familiar como valores sagrados. A taxação dos mais ricos, por sua vez, alinha-se com o imperativo moral de que a prosperidade deve servir ao bem comum, nunca à exploração. Trata-se de um evento que materializa a resistência popular e da fé que se entrelaça com a busca por justiça social.
Os movimentos sociais também foram procurados. O Fórum dos Trabalhadores de Uberaba (FTU) disse que publicará manifesto e cobrará da Comissão Organizadora do evento uma nota conjunta. Além disso, a entidade afirma que adotará medidas judiciais cabíveis em virtude da forma de tratamento de importante movimento social.