Falar sobre suicídio nunca é fácil, mas o silêncio também adoece. Até 7 de novembro de 2025, Uberaba já havia registrado 32 mortes por suicídio, o maior número desde o início da série histórica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), em 2010. São, em média, quase três mortes por mês, índice que supera os óbitos por dengue (19) e por Síndrome Respiratória Aguda Grave (13) neste ano, mostrando que o sofrimento psíquico também é uma questão urgente de saúde pública que precisa ser encarada com a mesma urgência e estrutura que se dá a outras epidemias.
Nos últimos anos, a cidade registrou 27 mortes em 2022, 26 em 2023 e 25 em 2024, revelando uma tendência preocupante de crescimento. As faixas etárias mais afetadas neste ano estão entre 20 e 29 anos e 40 e 49 anos, com oito casos cada, seguidas por 30 a 39 anos (5 registros). O perfil das vítimas reforça o peso do sofrimento emocional entre pessoas em idade produtiva, com reflexos profundos para famílias e comunidades.
Além das mortes, o município contabiliza 271 notificações de tentativa de suicídio em 2025. O dado revela que a dor começa cada vez mais cedo: houve registros inclusive entre crianças com menos de 10 anos e adolescentes, o que acende um alerta sobre a necessidade de atenção precoce. O grupo de 20 a 39 anos concentra a maior parte das ocorrências, evidenciando que jovens adultos são os mais vulneráveis.
Durante o Setembro Amarelo, a rede municipal de saúde mental intensificou os atendimentos, realizando 9.314 procedimentos e acolhendo 1.867 pacientes nas unidades Caps Adulto, Caps Infantojuvenil, Inácio Ferreira e no Sistema de Informação de Ações Psicossociais (Siap). Segundo a Secretaria de Saúde, a mobilização permitiu zerar a fila de espera por atendimento psicológico, um avanço que precisa ser mantido e ampliado.
O Núcleo de Enfrentamento da Violência e do Abuso Sexual (Nevas) também teve papel relevante, acolhendo 334 crianças e adolescentes vítimas de violência, fator que frequentemente se conecta a traumas emocionais graves e pode aumentar o risco de comportamento suicida.
Para o psicólogo Sérgio Marçal, diretor de Atenção Psicossocial da Secretaria de Saúde, o suicídio “raramente é um desejo de morrer, mas uma tentativa de acabar com uma dor emocional insuportável”. Ele explica que o cuidado com a mente deve ser visto como prevenção, assim como acontece com doenças físicas. “Buscar ajuda é um ato de coragem e amor à vida. Há profissionais e recursos. A vida depois da dor é possível e vale a pena”, afirma.
Onde buscar ajuda
Quem enfrenta sofrimento emocional pode procurar apoio gratuito e sigiloso no Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo número 188 ou no site cvv.org.br, disponível 24 horas por dia.