Desorganização tira chances da África na Copa do Mundo

Bell aponta a desorganização e a irresponsabilidade como problemas das seleções do continente     Eleito pelo IFFHS o melhor goleiro africano do século 20, com presença em três Copas do Mundo (embora titular apenas em 1994), o camaronês Joseph-Antoine Bell não vê com alegria o futebol de seu país. Nem tampouco o do continente africano, em geral. “As seleções do continente não têm chances reais de título. Pecam pela falta de organização de seus dirigentes. Isso parece não mudar. A Costa do Marfim, que é o melhor time africano, estava até pouco tempo sem treinador. A África do Sul, com a vantagem de jogar em casa, não se preparou adequadamente. E Camarões foi o que vimos na Copa da África deste ano”,  disse o ex-jogador, referindo-se à campanha pífia da seleção de seu país, eliminada nas quartas-de-final, após ter vencido apenas uma partida na fase de classificação. A presença do atacante Samuel Eto'o, grande ídolo em toda a África, não é suficiente para lhe calar a consciência crítica. “Não se ganha uma Copa do Mundo com um jogador. O povo de Camarões até acredita nisso, mas uma Copa não vem como um presente. Nem mesmo um time inteiro bom basta para vencer um Mundial. É preciso ter dirigentes, administradores, técnico, médicos”, comentou Bell. Ele lembrou do sucesso da seleção de Camarões no Mundial de 1990, eliminada pela Inglaterra na prorrogação das quartas-de-final (3 a 2), graças a um pênalti marotamente cavado por Lineker. Foi a melhor atuação de uma equipe africana na história das Copas. “Aquele jogo contra a Inglaterra mostrou nosso limite. Fomos para a partida como uma criança que vai fazer a prova já com o diploma no bolso. Era como se tivéssemos conquistado mais do que se esperava. Antes do jogo, um ministro veio nos ver e fez um discurso que acabou sendo prejudicial, sob esse aspecto. Ele disse: 'Já estamos contentes com vocês, vocês já são vencedores'. Não nos sentimos mais responsáveis por nada, apesar de termos a admiração e a torcida de muita gente no mundo todo. Com outra mentalidade, poderíamos ter avançado mais” - desabafou o ex-jogador.