Goleiro do Parque acorda para a realidade do futebol

Em pouco mais de um mês, o Estrelas Apagadas, mostrou que Uberaba é recheada de craques e que, certamente, diante de uma oportunidade ou na hipótese de aproveitá-la, estes jogadores teriam histórias mais felizes para contar. E hoje, para fechar a série de reportagens sobre os jogadores que não se revelaram no futebol profissional, vamos narrar a caminhada de Alexandre Marcelino, que já não acredita ser possível abandonar a vida pessoal, para se aventurar na expectativa de um reconhecimento.   Formado pelo Atlético da Abadia, o goleiro não acredita que ainda possa se dedicar à bola. O filho, Mateus Alexandre, tem apenas dois meses, e o seu nascimento fez com que Alexandre acordasse para a realidade: ser pai e a obrigação de manter um emprego fixo. “Arrumei mulher e filho e descobri que o futebol não dava mais. No momento, não penso mais em futebol profissional. Quero ter uma boa imagem para disputar o futebol Amador aqui da cidade. Nesse momento, a minha vida pessoal é mais importante, pois tenho um filho para criar. No meu trabalho a carga horária é extensa, não tenho tempo para treinar”, revela.   O filho da dona Inácia, que ouviu tantas vezes, o garoto, ainda pequeno, ser convidado para jogar em muitos times no Amador, conta que aos dezesseis anos conseguiu chegar às categorias de base do Uberaba Sport Club, porém, as suas condições financeiras não permitiram que o jovem atleta seguisse em frente. “Na época, conversei no clube para que pagassem pelo menos o meu coletivo, mas disseram que não podiam e eu também não podia. Faltou apoio”, disse. Com tudo, o goleiro passou por muitos times no futebol local e conta com entusiasmo ter disputado todas as categorias e ser, ainda, motivo de discussão de quem tem interesse em tê-lo nas suas equipes.   “Era sempre assim. Aqui em casa não parava, o pessoal gritando aí no portão, convidando para eu ir jogar nos seus times, e alguns até ofereciam alguns valores. No time de varzeano, recentemente, o pessoal até discutiu para ver em que equipe vou jogar as oitavas-de-final”, brinca. O jogador que disputou o Amador A pelo Parque das Américas, e agora disputa o Campeonato Varzeano com o Coreinha Futebol Clube, sabe que faltou um pouco mais de comprometimento, pois em determinados momentos, sair e se divertir com os amigos foi mais importante do que a sua vocação para os gramados. “Fui ficando mais velho, comecei a ir em festas, passear e beber. E isso me fez largar o futebol. Aí a parte física não aguenta. Se você fica a noite inteira na rua, não tem a mesma disposição para jogar no dia seguinte”, comenta.   Aniversariante de amanhã, Alexandre completará 20 anos, com a consciência de que mesmo não tendo conquistado nada material com o seu futebol, as amizades ficarão para sempre, e é a isto que ele mais dá valor. “Tenho muitas amizades, mesmo tendo me afastado de alguns. É algo que quero reconquistar, os meus amigos”.   A entrevista com Alexandre já tinha terminado, mas o jogador, já com o gravador desligado, descreveu o seu futebol de uma maneira simples e condizente à sua realidade: “Muitos jogadores confundem as coisas. Confundem sonho com vontade de fazer. Eu não tenho sonho de ser jogador de futebol. Eu tenho vontade de jogar bola. Quando estou no campo, esqueço de tudo, esqueço os meus problemas e quero estar ali, sem pensar se as pessoas estão me vendo, se estão gostando do que estou fazendo. Por isso, mesmo sabendo que tenho meu filho, que preciso ter um trabalho para sustentá-lo, eu quero continuar no futebol Amador, para poder acordar aos domingos e saber que vou poder fazer o que mais tenho vontade: jogar”.