Escritor está internado em estado grave em UTI de Porto Alegre (Foto/ANDREW SYKES/DIVULGAÇÃO)
O escritor Luis Fernando Verissimo encontra-se internado na UTI de um hospital em Porto Alegre, em condição considerada delicada.
Reconhecido como um dos nomes mais relevantes da literatura brasileira — cronista, romancista, humorista e criador de personagens icônicos como O Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté, Ed Mort e a Família Brasil — Verissimo enfrenta desde 2021 as consequências de um acidente vascular cerebral (AVC), além de conviver com o Mal de Parkinson e problemas cardíacos.
Em 2020, ele passou por uma cirurgia para tratar um câncer ósseo na mandíbula. A recuperação inicial foi positiva e não houve necessidade de quimio ou radioterapia, mas os bons resultados acabaram comprometidos após o AVC.
Atualmente, o escritor mora no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, ao lado da esposa, Lúcia, e do filho caçula, Pedro, na mesma casa histórica que pertenceu a seus pais, o também escritor Erico Verissimo e Mafalda.
Neste domingo, reportagem da Folha destacou a história da residência, as relações entre pai e filho e os esforços da família para preservar o legado literário dos dois.
Prestes a completar 89 anos, Verissimo não escreve mais e teve a fala bastante afetada pelas sequelas. Hoje, as poucas palavras que consegue pronunciar saem em inglês, em expressões soltas como “thank you” ou “stop”. Segundo Lúcia, que completou 81 anos recentemente e é casada há 61 com o escritor, os fisioterapeutas e cuidadores chegam a repetir algumas dessas expressões durante as interações diárias.
A esposa lamenta que, nos primeiros meses após o AVC, quando ele ainda arriscava algumas frases e até rabiscava desenhos, tenha recusado o tratamento fonoaudiológico. “Foi uma pena. Acho que ele via como algo infantil”, comenta.
Mesmo com dificuldades de comunicação, o cronista mantém seu humor característico. Certa vez, quando ainda conseguia dizer algumas frases curtas, brincou com sua própria timidez: “Antes eu não falava porque não queria, agora não falo porque não posso.” Para o filho Pedro, o silêncio nunca foi um obstáculo: “Ele sempre foi muito calado, então aprendemos a compreendê-lo sem precisar de frases completas.”
Hoje, Verissimo se expressa principalmente com os olhos e gestos, demonstrando plena compreensão do que acontece ao seu redor. A família conta que, em uma ocasião, ele acompanhava distraidamente uma entrevista do compositor Paulo César Pinheiro, até que o músico relatou uma frase de Pixinguinha sobre o álcool. Nesse momento, Verissimo reagiu com uma gargalhada certeira, mostrando não apenas atenção, mas também sua veia humorística.
A música, aliás, continua sendo parte essencial de sua vida — hábito cultivado desde os tempos de seu pai. Pedro, cantor e compositor, conta que o escritor passa horas no YouTube ouvindo jazz, gênero que ele mesmo tocava no saxofone como integrante do grupo Jazz 6.
Com limitações físicas, o antigo escritório no subsolo — que ele chamava de “toca”, assim como Erico — foi transferido para o andar térreo da casa. A rotina inclui sessões de fisioterapia três vezes por semana, leitura do jornal Zero Hora pela manhã, além de televisão, sobretudo noticiários e partidas de futebol, em especial jogos do Internacional e das grandes ligas europeias.