O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a afirmar nesta quarta-feira (6/8) que não vai ligar para Donald Trump para conversar sobre as tarifas de 50% impostas aos produtos brasileiros, porque o presidente norte-americano não quer negociar e ele não vai se "humilhar".
“Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, declarou Lula, em entrevista à Reuters.
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Lula disse também que os argumentos usados na carta enviada por Trump para justificar a nova taxação “dificultam” a negociação, já que o Brasil não abre mão da sua soberania. As tarifas de 50% aos produtos brasileiros começaram a valer a partir desta quarta-feira.
Na argumentação para as tarifas de 50%, o decreto do presidente Donald Trump cita uma resposta às "ações do governo brasileiro que prejudicam empresas americanas, os direitos de liberdade de expressão de cidadãos dos EUA, a política externa e a economia do país". Além disso, a ordem pontua uma "perseguição política, intimidação, censura e processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e milhares de seus apoiadores".
“Não é uma intromissão pequena. É o presidente da República dos EUA achando que pode ditar regras a um país soberano como o Brasil. Essa é uma coisa que dificulta”, afirmou o petista à Reuters.
Lula ainda citou como “intromissões” as críticas de Trump à regulamentação das chamadas big techs, as grandes empresas de tecnologia do mundo, e indicou que quem não quiser ser regulado “que saia do Brasil”.
“A segunda coisa é impor ao Brasil que não tenha regulamentação das big techs. Ele não admite que empresas americanas sejam reguladas. Mas esse país tem uma legislação, e as empresas têm que cumprir a legislação. Se não quiser regulação, sai do Brasil”, disse.
Na entrevista, o presidente adiantou que, por enquanto, “não vai retaliar os produtos norte-americanos" e destacou que continua aberto a negociações. No entanto, reforçou que o governo prepara um plano de contingência para socorrer as empresas que serão prejudicadas e os empregos.
“Estamos preparando como vamos lidar com as empresas brasileiras que terão prejuízo. Nós temos de criar condições para ajudar essas empresas. Temos obrigação de cuidar da manutenção dos empregos das pessoas que trabalham nessas empresas. Temos obrigação de ajudar essas empresas a encontrarem novos mercados para os produtos delas e convencer empresários americanos a brigar com o presidente Trump para que possa flexibilizar tudo isso", declarou.
“Estou fazendo tudo isso quando poderia anunciar taxação aos produtos norte-americanos. Não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento dele. Quero mostrar que, quando um não quer, dois não brigam. Eu não quero brigar com os EUA”, falou.
Segundo ele, a intenção é debater o tarifaço com o Brics — grupo de países em desenvolvimento do qual o Brasil faz parte, junto com a China, a Rússia e a Índia, dentre outros.
Fonte: O Tempo.