Rodrigo Paz iniciou a carreira política em 2002 como deputado por Tarija, onde mais tarde foi vereador e prefeito (Foto/Reprodução)
O senador de centro-direita Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), venceu o segundo turno das eleições presidenciais na Bolívia neste domingo (19), encerrando quase duas décadas de governos do Movimento ao Socialismo (MAS). Com 54,5% dos votos, Paz superou o conservador Jorge “Tuto” Quiroga, que obteve 45,5%, segundo dados do Tribunal Supremo Eleitoral, com 97% das urnas apuradas.
Apesar da vitória, o PDC não alcançou maioria no Legislativo, o que obrigará o novo presidente a buscar alianças para governar. A posse está marcada para 8 de novembro.
“Precisamos abrir a Bolívia para o mundo”, declarou Paz em discurso de vitória em La Paz, após Quiroga reconhecer a derrota.
A vitória de Paz, de 58 anos, marca uma virada na política boliviana, dominada desde 2006 pelo MAS, fundado por Evo Morales e sustentado por uma base popular e indígena. A campanha do senador conciliou promessas de continuidade de programas sociais com incentivos ao setor privado, atraindo parte do eleitorado de esquerda insatisfeito com o partido governista.
Paz defende uma reforma econômica gradual, com incentivos fiscais a pequenas empresas e maior autonomia regional, em contraste com Quiroga, que propunha cortes de gastos e um resgate financeiro junto ao FMI.
“Estamos caminhando para uma nova etapa da democracia boliviana no século XXI”, disse Paz em entrevista antes da eleição. “Vamos tentar construir uma economia para o povo, na qual o Estado não seja o eixo central.”
O novo presidente também promete reaproximação com países ocidentais, especialmente os Estados Unidos, após anos de alinhamento da Bolívia com Rússia e China. Em setembro, ele anunciou planos para um acordo de cooperação econômica de US$ 1,5 bilhão com autoridades norte-americanas, voltado ao setor energético.
O desempenho de Paz foi impulsionado por seu vice, Edman Lara, ex-policial e influenciador digital conhecido por vídeos contra a corrupção. Lara foi afastado da corporação em 2024, mas seu discurso populista aproximou a chapa de eleitores jovens e da classe trabalhadora.
Sindicatos e movimentos sociais, no entanto, já sinalizam resistência. A Central de Trabalhadores da Bolívia (COB) advertiu que reagirá a qualquer tentativa de revogar conquistas sociais obtidas durante os governos do MAS.
Nascido em Santiago de Compostela, na Espanha, em 1967, durante o exílio de sua família, Rodrigo Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989–1993). Seu pai governou com apoio do Congresso após o “Acordo Patriótico” firmado com o então ditador Hugo Banzer, e foi alvo de acusações de corrupção e vínculos com o narcotráfico — nunca comprovadas.
Seguindo os passos do pai, Rodrigo Paz iniciou a carreira política em 2002 como deputado por Tarija, onde mais tarde foi vereador e prefeito. Alguns de seus projetos municipais foram questionados por superfaturamento e falhas na execução.
Entre 2020 e 2025, atuou como senador pela aliança Comunidade Cidadã, liderada por Carlos Mesa, de onde consolidou seu perfil moderado e crítico ao governo de Luis Arce. Em 2019, participou da Coordenadoria para a Defesa da Democracia, grupo que denunciou suposta fraude nas eleições e teve papel central na crise que resultou na queda de Evo Morales.
Agora, eleito presidente, Rodrigo Paz inicia um governo que simboliza a transição da Bolívia para uma nova fase política, em meio a fortes expectativas e tensões sobre o futuro do país.