Criança de 13 anos morreu nas dependências do Hospital da Criança, após médica plantonista solicitar o Samu para fazer a transferência do paciente para o Hospital de Clínicas
Marcelo Gabriel Aparecido Dias Silva, de 13 anos, sofria de bronquite asmática e passou mal na sexta e no sábado, quando foi a óbito (Foto/Jairo Chagas)
A Polícia Civil (PC), por meio da Delegacia da Comarca, instaurou inquérito policial para apurar suposto crime de omissão de socorro, que resultou na morte do estudante Marcelo Gabriel Aparecido Dias Silva, 13 anos. Ele teria morrido nas dependências do Hospital da Criança, na rua Doutor Lauro Borges, no sábado (29). O adolescente teria dado entrada no hospital em estado grave e a médica plantonista chegou a acionar o Samu para o transporte até o Hospital de Clínicas da UFTM, mas ele não resistiu e morreu antes da chegada do Samu.
De acordo com o delegado regional da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (1ªDRPC), Rodolfo Rosa Domingos, a delegacia competente para apuração do suposto crime de omissão de socorro com resultado de morte é a Delegacia da Comarca que tem como titular o delegado PC Armando Papacídero Filho. As investigações já tiveram início desde a elaboração da ocorrência policial pela Polícia Militar.
De acordo com o que apurou o Jornal da Manhã, a Polícia Militar foi acionada no Hospital da Criança e, em primeiro momento, os militares conversaram com uma médica, de 26 anos, plantonista naquela ocasião, que teria atendido o adolescente, por volta das 16h50 de sábado (29).
Conforme a médica, o menor apresentava um quadro considerável de falta de ar, sendo que por volta das 17h, solicitou o Serviço Móvel de Urgência (Samu) para encaminhar a vítima para o Hospital de Clínicas da UFTM, pois o estado de saúde do menor era extremamente delicado e o Hospital da Criança não tinha os equipamentos necessários para tratar de maneira adequada o paciente. O único aparelho ventilador respiratório existente naquele local, segundo ela, estava com defeito e o procedimento de oxigenação no paciente estava sendo realizado manualmente.
A médica plantonista do Hospital Criança informou ainda que, durante uma das diversas ligações que realizou para o Samu, a atendente relatou que não havia nenhuma viatura disponível para enviar ao hospital, uma vez que a unidade de suporte avançado estaria socorrendo uma vítima de acidente de trânsito.
A médica relatou também que, em determinado momento, a atendente do Samu agiu com deboche diante da situação, perguntando se era para a equipe do Samu arremessar o socorrido para fora da ambulância, para poder ir ao Hospital da Criança e atender o adolescente Marcelo Gabriel Aparecido Dias Silva.
Ainda conforme a médica do Hospital da Criança, por volta das 17h30, a médica do Samu entrou em contato e disse que só iria enviar a ambulância se o paciente fosse entubado. Logo em seguida, a médica do Hospital da Criança teria recebido nova ligação, dizendo que, durante o deslocamento, a ambulância do Samu teria apresentado defeito nos freios.
A médica plantonista do Hospital da Criança conclui suas explicações dizendo que, apesar de realizar os procedimentos necessários para manter o menor com vida, ele não resistiu e foi a óbito.
Policiais militares da 41ª Companhia do 4ºBPM também conversaram com a mãe do estudante Marcelo Gabriel Aparecido Dias Silva. Ela relatou que levou seu filho ao Hospital da Criança, na sexta-feira (28), por volta de 18h30, pois ele estava com falta de ar.
Ela afirma também que seu filho tem bronquite e asma e que, durante o atendimento, trataram ele com “bombinhas” de oxigênio e prescreveram medicamento (Celestamine), para que fosse usado em casa, e deram alta para o jovem estudante.
A mãe do adolescente falou também que seu filho permaneceu por um longo período no oxigênio e foram feitas várias medicações, pois ele sentia muitas dores nas costas. Contou, ainda, que, após verificação da saturação, que teria caído para 86, a médica que estava no plantão naquele momento disse que ele seria transferido, contudo, seria necessário entubá-lo, pois o Samu exigia esse procedimento para realizar a transferência para o Hospital de Clínicas da UFTM.
Disse também que achou estranho a médica ter utilizado em um primeiro momento o medicamento “Aerolin” e depois ter trocado o medicamento por outro não identificado, por duas vezes, num período de 30 minutos.
Já o pai, de 55 anos, que também estava presente no Hospital da Criança, disse aos policiais militares que, no sábado (29), seu filho, Marcelo Gabriel Aparecido Dias Silva, piorou e, por volta das 10h30, ele o levou novamente para o Hospital da Criança. Ele apresentava quadro de bastante cansaço e dificuldade de respirar. O pai relatou que a médica de plantão, naquele momento, atendeu seu filho e, após solicitar raio X, constatou que o menor estava com pneumonia. A médica plantonista disse, segundo o pai da vítima, que o adolescente teria que ficar internado de cinco a sete dias.
Durante a lavratura da ocorrência, policiais militares da 41ª Companhia do 4ºBPM constataram que o ventilador respiratório do Hospital da Criança realmente não estava funcionando, apesar de constatar que esse aparelho estava dentro do período de calibração, conforme descrito em etiqueta fixada em sua lateral.
O registro policial foi encaminhado à Delegacia de Plantão da Polícia Civil e encaminhado imediatamente para a Delegacia da Comarca.
Prefeitura emite nota e alega que Samu estava em outro atendimento
Prefeitura de Uberaba lamentou a morte e, por meio de nota, solidarizou-se com a família do adolescente Marcelo Gabriel Aparecido Dias Silva, 13 anos, e informa que, segundo o Hospital da Criança, o paciente foi atendido na sexta-feira, 28, um dia antes do óbito, e teve alta.
A nota traz a cronologia dos fatos, ressaltando que, no sábado (29), ele retornou com grave quadro de saúde ao Hospital da Criança, que, às 15h59, foi inserido junto ao Sistema Regulador Municipal/Samu, solicitando internação do adolescente na própria unidade.
Às 17h13, o hospital encaminhou e-mail para o Complexo Regulador, solicitando o cancelamento da internação na própria unidade, alegando a necessidade de o adolescente ser transferido.
Para efetivar a transferência, o paciente deveria estar estabilizado, e não estava. A ambulância de Suporte Avançado do Samu, apta a transferi-lo, atendia um idoso, desde às 17h09, após queda de altura, e que, segundo o solicitante, se encontrava desacordado. A nota segue dizendo que, às 17h41, a ambulância atendeu a uma nova ocorrência, referente a uma queda de moto, em que o acidentado necessitou ser entubado na rua e encaminhado para o Hospital de Clínicas, posteriormente.
“Às 17h56, o Hospital das Crianças inseriu um novo laudo no Sistema, solicitando a internação em outra unidade, sendo autorizada às 18 horas”, diz o documento, acrescentando que, assim que a Unidade de Suporte Avançado foi liberada e se dirigiu à unidade, equipe do Samu entrou em contato com o Hospital da Criança, sendo informada pela médica assistente sobre o óbito do paciente.
Durante todo o período entre a solicitação de internação até o deslocamento da Unidade de Suporte Avançado, os médicos do Samu estavam orientando o Hospital da Criança sobre os procedimentos para estabilizar o paciente, uma vez que a transferência seria possível apenas com a estabilização.
A nota ressalta que “a Prefeitura está à disposição para colaborar com todas as investigações sobre a morte do adolescente e finaliza pontuando que detalhes da internação devem ser buscados junto ao hospital”.
O documento também ressalta que toda a situação foi acompanhada de perto, desde o sábado, pela Secretaria de Saúde.