Brasil e China avançam em protocolo para certificação ambiental e rastreabilidade de carne e soja

Brasil e China estão em negociações para criar um protocolo bilateral que assegure a certificação e rastreabilidade de produtos agropecuários, com destaque para carne e soja, principais itens da pauta exportadora brasileira para o país asiático. O objetivo é fortalecer a exportação frente às recentes tarifas de até 50% aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.

Segundo apurado, o acordo pretende estabelecer um mecanismo de reconhecimento mútuo para selos de sustentabilidade, como os certificados “Carne Carbono Neutro” e “Soja de Baixo Carbono”, desenvolvidos pela Embrapa. Esses selos poderiam ser oficialmente aceitos pelas autoridades e empresas chinesas, facilitando o comércio.

O protocolo envolve a padronização de métodos para medir emissões de gases, uso do solo, manejo ambiental e condições de bem-estar animal. Além disso, a proposta prevê a integração de sistemas digitais, uso de QR codes para informar dados ambientais e a troca de informações em bases digitais compartilhadas.

As discussões aconteceram durante a missão oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) à China, em junho, com a participação de representantes da Embrapa e da ApexBrasil. Reuniões foram realizadas com o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China, a Academia Chinesa de Ciências Agrárias e empresas que atuam em tecnologias para rastreabilidade e cálculo de carbono, como Syngenta China e Tencent.

A Cofco Meat Investment, uma das maiores companhias do setor alimentício na China, demonstrou interesse em criar rotas de fornecimento de carne brasileira com certificação sustentável baseada nas metodologias da Embrapa e nos sistemas de rastreabilidade já utilizados no Brasil.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) indicam que, em 2024, a China foi responsável por 51,3% das exportações brasileiras de carne bovina, enquanto os Estados Unidos representaram 8,1%. Em julho, antes da aplicação das tarifas americanas, a participação chinesa aumentou para 57%, e a dos EUA caiu para 4,7%, ficando atrás do México (4,8%).

Na visita à China, a comitiva brasileira observou que redes de supermercados chinesas já exigem a inclusão de QR codes em produtos de origem animal, contendo informações sobre rastreabilidade ambiental e pegada de carbono, tendência que deve se consolidar no país.

O protocolo também contempla a soja, produto estratégico e fundamental para a segurança alimentar chinesa. Programas brasileiros como o Selo ABC+ e Soja Plus são considerados para reconhecimento no acordo.

O governo brasileiro espera que o protocolo funcione como um instrumento regulatório integrado, antecipando futuras exigências ambientais. Uma visita técnica de autoridades chinesas ao Brasil está prevista ainda neste ano para avaliar as tecnologias locais e consolidar o acordo.

No cenário internacional, o fortalecimento dos laços comerciais com a China e demais países do Brics ocorre em meio a críticas do governo dos Estados Unidos, que aumentou tarifas sobre produtos brasileiros. O presidente Lula mantém contato com líderes do bloco para apoio diante das medidas americanas. Recentemente, a China habilitou 183 novas empresas brasileiras de café para exportação.

Enquanto isso, o governo chinês prorrogou a investigação de salvaguarda sobre a importação de carne bovina, iniciada em dezembro de 2024, para até 26 de novembro. O objetivo é avaliar possíveis impactos do aumento das importações sobre a indústria local, podendo resultar em medidas protetivas, como tarifas extras ou cotas. Até a conclusão, as condições atuais para exportadores brasileiros permanecem vigentes.