Mantega contesta indicação de Bolsonaro para o BID e pede adiamento de eleição

Integrante na área de Planejamento, Orçamento e Gestão da equipe de transição para o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro Guido Mantega pediu o adiamento da eleição para presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), marcada para 20 de novembro.

A intenção é contestar a indicação do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que recomendou o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn para chefiar a instituição. Mantega já entrou em contato com autoridades econômicas de países das Américas para pedir uma nova data para a eleição.

O BID, no entanto, já descartou o pedido justificando que o regulamento não prevê o adiamento das eleições. “O Banco Interamericano de Desenvolvimento informa que o regulamento não prevê adiamento do processo. Além disso, reiteramos que qualquer questão relativa à eleição deverá ser abordada pela Assembleia de Governadores do banco", informou por meio de nota.

"Nós sabemos que o BID vem de uma crise forte justamente porque o seu presidente foi nomeado pelo presidente Trump [Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos] e não tinha a representatividade adequada entre os países membros do BID, que são a América Latina e a América Central. Por sinal, o presidente Bolsonaro apoiou esse presidente [Mauricio] Carone, que está sendo mandado embora de lá porque cometeu várias irregularidades e não representava bem a América Latina, que é o principal participante do BID", afirmou Mantega à Globonews nesta sexta-feira (11).

O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento nos governos anteriores de Lula contou ter recebido telefonemas de pessoas ligadas à área econômica insatisfeitas com a indicação de Goldfajn feita por Bolsonaro. Por isso, resolveu enviar um e-mail para a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, com o pedido. Mantega destacou que conversou com vários ministros da Economia de países latino-americanos em busca de um candidato de consenso.

Mantega apontou que Bolsonaro "tentou dar mais um golpe" ao indicar oficialmente Goldfajn ao BID às vésperas da eleição presidencial. Isso porque, derrotado nas urnas por Lula, o atual presidente poderia emplacar um nome de seu interesse na instituição financeira.

"Nao estou dizendo que [Ilan Goldfajn] seja um mau candidato, mas o Bolsonaro tentou dar mais um golpe, criar um fato consumado e fazer um presidente do BID de forma equivocada. Não foram negociar com a Argentina, o Peru, a Colômbia, o Uruguai. Eles lançaram um candidato simplesmente", disse ainda à emissora.

Mantega tem a concordância da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, no pedido de adiamento das eleições do BID. "Em relação ao BID, nós não orientamos, mas eu acharia de bom tom eles adiarem. Nós temos um governo que foi eleito agora e não tem por que não esperar a posse do governo", afirmou Gleisi.