Reedição da aliança Sul-Sul numa América convulsionada, Europa em crise, guerra na Ucrânia e disputa China x EUA
Lula discursa na Assembleia Geral da ONU, em 2003, durante seu primeiro mandato presidencial (Foto/Divulgação/PT.org.br)
Os impactos da guerra da Ucrânia e da disputa comercial entre China e Estados Unidos vão ditar as movimentações do cenário internacional nos próximos anos e, por consequência, as movimentações da diplomacia brasileira. Após quatro anos de bilateralismo e até mesmo isolamento – sintetizado pelo discurso do ex-chanceler Ernesto Araújo em que assumia a possibilidade de o Brasil ser um “pária” e agravado pela questão amazônica –, as sinalizações mais fortes são de que o Itamaraty retomará o multilateralismo e o fortalecimento das relações Sul-Sul para se posicionar diante das grandes potências.
Mas, diferentemente dos primeiros oito anos em que Lula esteve na Presidência, e nos mandatos de Dilma Rousseff – do qual o novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi chanceler –, hoje as condições são mais turvas. Apesar de a América do Sul viver uma segunda “onda rosa”, em que apenas três nações não são governadas por líderes de centro a extrema esquerda, muitos passaram 2022 enfrentando turbulências econômicas e políticas.
América do Sul
O Chile de Gabriel Boric viu a primeira tentativa de revisão da Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet ser rejeitada, por falta de consenso tanto nas pautas sociais quanto sobre os regulamentos da mineração, que responde por 60% das exportações do país e um décimo do PIB.
A Argentina de Alberto Fernández acumula uma inflação de pelo menos 92% em 11 meses, uma maxidesvalorização do peso diante do dólar e uma crise de confiança nos títulos do governo. Na esfera política, a vice-presidente Cristina Kirchner foi condenada por escândalo de corrupção e só não foi presa por ter foro privilegiado.
E o Peru passou pela mais grave crise política, com uma tentativa de dissolução do Congresso e instituição de Estado de Exceção pelo ex-presidente Pedro Castillo, rapidamente abafada pelas instituições do país na sexta troca de presidentes em quatro anos.
Enfim, todos tentarão obter mais do maior parceiro do continente, do que estão dispostos a oferecer para que o Brasil possa assumir um protagonismo no cenário mundial e enfrentar em melhores condições as turbulências previstas.
Europa e China
Os mais de dez meses de conflito entre Rússia e Ucrânia já somam um custo global de US$ 2,8 trilhões, nos cálculos da OCDE. E, o estrangulamento do fornecimento de gás e óleo russos para a Europa e ameaça lançar o continente a uma recessão.
Além disso, desde o governo Trump as tensões entre EUA e China nunca foram tão grandes, com o presidente Xi Jinping, num inédito terceiro mandato, aumentou os gastos militares em 7% e reduziu investimentos para enfrentar a desaceleração do PIB para 4% ao ano.
(*) Mestre em relações internacionais pela PUCMinas
Fonte: O Tempo