O governo federal anunciou recentemente o Reforma Casa Brasil, um novo programa voltado ao financiamento de reformas em moradias de famílias de baixa renda. O economista Sérgio Martins explica que a medida tem potencial para movimentar o setor da construção civil e melhorar as condições de moradia de milhões de brasileiros, mas alerta que nem todos conseguirão acesso ao benefício, especialmente os endividados ou com CPF negativado.
Segundo Martins, o programa será operado por meio de linhas de crédito com recursos liberados pelo Banco Central, que deve reduzir o compulsório dos bancos, ou seja, parte do dinheiro que as instituições financeiras são obrigadas a manter retida, permitindo injetar até R$ 40 bilhões na economia. “O governo vai liberar recursos para que bancos públicos e privados ofereçam crédito para reformas, com juros menores e prazos mais acessíveis. É uma medida que pode estimular o consumo e gerar empregos”, disse o economista.
Limite de R$ 30 mil por família
O Reforma Casa Brasil deve financiar até R$ 30 mil por família, valor que pode ser usado na compra de materiais de construção e na contratação de mão de obra.
No entanto, o economista pondera que o valor é baixo diante do custo atual de reformas, especialmente em regiões onde o preço dos materiais segue elevado. “É um recurso que ajuda, mas não resolve tudo. Dependendo da obra, R$ 30 mil pode não cobrir nem o básico”, afirma.
Quem pode participar
Martins destaca que o programa é voltado a famílias de baixa renda, mas será exigido que o interessado tenha o CPF limpo, ou seja, sem restrições em órgãos de crédito como SPC e Serasa.
“Essa é uma das maiores barreiras. O endividamento das famílias brasileiras ainda é muito alto. Muita gente que mais precisa desse crédito não vai conseguir porque está com o nome sujo”, explica o economista.
De acordo com ele, mais de 70% das famílias ainda possuem algum tipo de dívida, e cerca de 30% estão com contas em atraso. “Esse é um dos grandes desafios do programa: atender quem realmente precisa, mas que hoje está fora do mercado de crédito formal”, analisa.
Acompanhamento será feito por aplicativo
Uma das novidades do Reforma Casa Brasil é o uso de um aplicativo para monitorar o andamento das reformas. Por meio da plataforma digital, os beneficiários deverão enviar fotos, notas fiscais e informações sobre a execução das obras, garantindo transparência e acompanhamento do uso dos recursos.
“É uma forma de controle importante, que evita fraudes e garante que o dinheiro seja realmente usado para reformar a casa”, observa Martins.
Efeito no mercado de trabalho
O economista ressalta que o programa pode ter impacto positivo na geração de empregos, principalmente no setor da construção civil. Contudo, ele lembra que muitos trabalhadores do ramo, como pedreiros e serventes, ainda atuam na informalidade, o que pode dificultar o acesso aos recursos.
“O crédito vai exigir notas fiscais e formalização da mão de obra. Quem trabalha sem CNPJ pode acabar ficando de fora desse circuito”, avalia.
Cuidado com novas dívidas
Apesar do otimismo com o impacto econômico, Martins recomenda cautela aos interessados. “Mesmo com juros mais baixos, é preciso lembrar que se trata de um empréstimo. A pessoa precisa ter renda suficiente para pagar as parcelas sem comprometer o orçamento”, orienta.
Ele também destaca que o programa surge em um momento de cautela na economia, com famílias ainda tentando se reequilibrar após um longo período de endividamento e juros altos.
“Há sinais de melhora, mas a renda ainda é apertada. O ideal é planejar bem antes de assumir um financiamento, mesmo que o objetivo seja melhorar a casa”, conclui.