A solidão tem se tornado um dos principais fatores de adoecimento emocional no mundo — e nos jovens, o impacto é ainda maior. Segundo o psicólogo Sérgio Marçal, a solidão em si não é sempre negativa, mas quando se transforma em isolamento social desencadeia uma série de sintomas que podem culminar em depressão, comportamentos autodestrutivos e, em casos extremos, o suicídio. O alerta foi reforçado após a circulação de informações que apontam que a solidão mata cerca de 100 pessoas por hora no planeta.
Em entrevista ao Pingo do J, Marçal explica que o ser humano evoluiu vivendo em grupo, cuidando uns dos outros, e que perder essa convivência básica desequilibra a saúde mental. “Quando eu me isolo, perco interação, afetividade e rotina. A vida vira um buraco escuro”, afirma. O isolamento — e não a simples solidão — está associado à queda no apetite, alterações de sono, apatia, tristeza profunda e perda de interesse por atividades antes prazerosas. A persistência desses sinais é o que indica a necessidade de procurar ajuda.
O psicólogo ressalta ainda que o suicídio já mata mais que todas as ISTs somadas no Brasil, e que grande parte dos casos está ligada ao sofrimento silencioso da juventude. A adolescência, segundo ele, é um período de intensa transformação biológica e emocional. Alterações hormonais, pressões sociais, mudanças corporais e a busca por identidade criam um ambiente propício ao recolhimento e à vulnerabilidade. Sem apoio familiar ou diálogo dentro de casa, o jovem tende a “se esconder” e acumular conflitos.
Para Marçal, a sociedade atual também contribui para esse adoecimento. A pressão por sucesso, produtividade, aparência e escolha profissional precoce gera frustração e sensação de inadequação. “Vivemos uma crise de valores. Consumimos muito conteúdo, mas com pouca profundidade. Parece que todo mundo tem uma vida perfeita no Instagram, e a vida real nunca alcança essa fantasia”, diz.
Relações frágeis aumentam a vulnerabilidade emocional
O especialista também explica que vínculos familiares enfraquecidos dificultam a identificação precoce de sinais de sofrimento, como queda no rendimento escolar, isolamento persistente, irritabilidade e alterações de sono e apetite. Ele alerta que comportamentos comuns na adolescência se tornam preocupantes quando vêm acompanhados de disfuncionalidade.
“Todo adolescente é monossilábico, mas se isso persiste e vem acompanhado de disfuncionalidade, acende um alerta”, destaca. A solidão, acrescenta, também pode existir dentro de relações estáveis, quando há convivência física, mas desconexão emocional — o que leva muitas pessoas, anos depois, a buscar novos vínculos em busca de acolhimento e pertencimento.
Marçal reforça que presença emocional, diálogo e autoridade afetiva são fundamentais no cuidado com crianças e adolescentes. Para ele, tristeza e frustração fazem parte da vida, mas o sofrimento prolongado exige atenção. “O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença. Se o mal-estar passa a comprometer a rotina, é hora de buscar ajuda — e o isolamento nunca deve ser a resposta”, conclui.