Com índices de alfabetização que ainda preocupam, Uberaba enfrenta o grande desafio de elevar a qualidade do ensino na rede pública. Para a presidente do Sindicato dos Educadores Municipais (Sindemu), Thais Villa, não se pode colocar toda a responsabilidade nos professores, já que parte do problema reside na estrutura educacional oferecida nas escolas. Ela defende não só a redução no número de alunos por sala e o reforço no apoio pedagógico, mas também a definição de um plano de ensino municipal que oriente o trabalho docente de maneira uniforme e contínua.
Em entrevista à Rádio JM, a presidente Thais Villa afirmou que a qualidade da alfabetização depende de condições adequadas de trabalho e não apenas da didática aplicada em sala de aula. “Somos alfabetizadores, mas não dá para colocar esse peso apenas na didática ou no que o professor faz em sala de aula. Há uma estrutura inadequada, que passa pelo excesso de alunos e pela falta de condições pedagógicas”, declarou.
Thais argumentou que, embora existam diretrizes nacionais, como a Base Nacional Comum Curricular, Uberaba ainda não tem uma construção pedagógica própria e clara, o que gera descontinuidade. Ela lembrou que, enquanto não houver formulação de um Plano Municipal de Educação (PME) verdadeiramente alinhado às necessidades locais, os professores seguirão adotando métodos próprios, conforme sua adaptabilidade, fragilizando o aprendizado coletivo.
“Nós temos currículo, temos a Base Nacional Comum Curricular, mas não sabemos qual é a construção pedagógica que queremos para Uberaba. É montessoriano? Paulo Freire? Histórico-crítica? Sem um norte, cada professor segue de um jeito, e isso fragiliza a continuidade do ensino”, criticou.
Além disso, a média atual de 25 estudantes por sala no primeiro ano do ensino fundamental compromete o processo de ensino. Na avaliação da educadora, o número é maior do que um professor regente consiga alcançar para uma alfabetização eficaz para todos os alunos. “Você tem uma professora regente para 25 crianças de 6 anos, que precisam ficar quatro horas sentadas. É ilusório esperar que todas acompanhem. A redução para 15 alunos, ou pelo menos dois professores por sala, faria diferença”, apontou, acrescentando que a facilidade de aprendizagem varia de acordo com cada criança.
A presidente do Sindemu comentou que tal situação gera progressão automática, pois há turmas em que parte dos alunos deixa o primeiro ano ainda sem alfabetização plena e segue para o segundo ano sem recuperação adequada. A proposta ideal, segundo ela, seria oferecer natureza de ensino complementar que recupere os conteúdos em que houve defasagem, e debatedores desse projeto apontam que a reprovação não pode ser usada como instrumento de exclusão.
Conforme dados do MEC, Uberaba atingiu 57,68% de crianças alfabetizadas na idade certa em 2024, acima da meta esperada para o município, mas ainda abaixo da média nacional, de 59,2%.
Para Thais, o Sindemu deve atuar como facilitador dessa mudança. Fora cobrar estrutura, o sindicato propõe formações continuadas, rodas de conversa e parcerias com universidades para fortalecer o capital pedagógico dos professores. Só assim, acredita, será possível avançar de forma realista no novo plano municipal e reverter os baixos índices de alfabetização. “O professor não pode ser visto como um artista que precisa inventar todos os dias. Existem métodos que funcionam, mas a estrutura precisa acompanhar. Não é o professor contra o mundo”, concluiu.