Impor limites não significa ser excessivamente rígido, mas sim demonstrar cuidado (Foto/Divulgação)
O debate sobre a adultização e exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais vem sendo amplamente discutido nas últimas semanas em todo o país, desde que vídeo sobre o tema, do influenciador digital Felca, viralizou. Para o psicólogo e psicanalista Sérgio Marçal, o acesso sem controle pode comprometer etapas fundamentais do desenvolvimento infantil, substituindo experiências que deveriam ser vividas fora das telas.
Em entrevista à Rádio JM, o especialista contou que, quando atividades como brincar, explorar o ambiente e socializar são deixadas de lado, a criança perde oportunidades de desenvolver habilidades importantes para cada fase da vida. “Ela vai saltando de uma etapa para outra com déficits, acumulando prejuízos que podem influenciar, inclusive, em como esse indivíduo se colocará no mundo na vida adulta”, explicou.
Marçal observa que a infância é um período marcado por esquemas de aprendizagem específicos, como o desenvolvimento motor, a compreensão de regras e a construção de vínculos sociais. Quando a criança passa a ser apenas espectadora de conteúdos digitais, em vez de participar de experiências concretas, há risco de distorções na formação de valores e de dificuldades na convivência futura.
Para reduzir esses impactos, o psicólogo defende que pais e responsáveis estabeleçam limites claros no tempo de uso das telas. Em sua avaliação, crianças de zero a três anos não deveriam ter contato com redes sociais, já que ainda estão em processo de compreender frustrações, regras e limites. A partir dessa fase, o uso pode ser introduzido, mas sempre de maneira equilibrada e com monitoramento.
“Um tempo razoável seria de 40 minutos a uma hora por dia, dentro de uma rotina que também inclua atividades escolares, esportes, convivência familiar e o brincar livre, que é essencial para a imaginação e a capacidade simbólica”, destacou. O especialista acrescenta que aplicativos de controle parental podem ser aliados, mas não substituem a presença ativa dos pais.
Sérgio Marçal ressalta ainda que impor limites não significa ser excessivamente rígido, mas sim demonstrar cuidado. Para ele, a autoridade dos pais ao regular o tempo de uso das telas é um gesto de responsabilidade que favorece a maturidade das crianças e ajuda a prepará-las para lidar com as frustrações naturais da vida.