MUNDIAL DE CLUBES

Calendário cheio: como a maratona de jogos afeta a performance dos clubes brasileiros

Publicado em 07/10/2025 às 09:35Atualizado em 07/10/2025 às 12:59
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(Foto: Pixabay)

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O calendário do futebol brasileiro nunca foi leve, mas os números recentes escancaram uma realidade alarmante. Em 2024, segundo levantamento do Espião Estatístico, os 14 primeiros times do mundo que mais jogaram eram da Série A do Brasileirão. Entre os 17 clubes que superaram a marca de 60 partidas, 16 eram brasileiros. O Fortaleza liderou esse ranking, com 78 jogos na temporada, uma média de um jogo a cada quatro dias.

Essa intensidade não é novidade para torcedores e dirigentes, que há décadas reclamam do excesso de competições. Mas agora, com estatísticas tão explícitas, a discussão ganhou ainda mais força. O acúmulo de jogos compromete a preparação física, eleva o risco de lesões e afeta diretamente o rendimento das equipes. Não à toa, muitos torcedores que analisam performance e resultados procuram ferramentas que ajudem a compreender melhor esse cenário, como o Betsul para iniciantes, recurso útil para acompanhar probabilidades em meio à maratona que domina o calendário.

A questão vai além de um ano atípico ou de reclamações isoladas. O que se observa é um problema estrutural, acumulado ao longo de décadas, em que torneios foram sendo ampliados, sobrepostos e reconfigurados de modo a privilegiar receitas e audiência, sem levar em consideração o impacto no desempenho esportivo. A pergunta é: até quando será possível manter esse ritmo sem comprometer a saúde dos atletas e a qualidade do espetáculo?

A origem do problema: um calendário que se transformou ao longo das décadas

O calendário do futebol brasileiro sempre foi singular. Diferente da Europa, onde ligas e copas nacionais ocupam espaço definido e enxuto, o Brasil conviveu historicamente com os Campeonatos Estaduais, que nas primeiras décadas do século XX eram a principal vitrine do futebol. Durante muito tempo, o Estadual era o torneio mais relevante para clubes e torcedores, especialmente em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Essa tradição se manteve mesmo após a criação do Campeonato Brasileiro, em 1971, e ainda hoje ocupa os primeiros meses do ano, somando dezenas de partidas.

A partir dos anos 1980 e 1990, outras competições começaram a se expandir. A Copa do Brasil, criada em 1989, nasceu com formato mais curto, mas ao longo do tempo ganhou rodadas adicionais e deixou de ser restrita a clubes que não disputavam a Libertadores. Essa mudança, feita em 2013, permitiu que as grandes equipes participassem das duas competições simultaneamente, inflando ainda mais o calendário.

A Libertadores da América também passou por transformação. Até meados da década de 2010, era disputada de maneira concentrada, com finais realizadas ainda no primeiro semestre — como em 2006 e 2010, quando o Internacional ergueu a taça em agosto e julho, respectivamente. Em 2017, a Conmebol alterou o formato e estendeu a competição para praticamente todo o ano, adaptando-se ao modelo televisivo e comercial, mas comprimindo ainda mais o calendário dos clubes brasileiros. A Copa Sul-Americana, criada em 2002, seguiu o mesmo caminho: de torneio secundário, ganhou corpo e calendário prolongado, passando a ser tratada como título de peso.

Esse acúmulo de competições moldou um cenário em que os clubes brasileiros jogam significativamente mais do que seus pares europeus. Se lá fora as ligas nacionais são enxutas, aqui a soma de Estaduais, Copa do Brasil, Libertadores ou Sul-Americana e Brasileirão, somada a eventuais amistosos e compromissos internacionais como o Super Mundial de Clubes, cria uma maratona sem paralelo. O resultado é um calendário inchado, que se tornou marca registrada do futebol brasileiro — ao mesmo tempo em que gera receita, cobra caro em desempenho e saúde dos atletas.

O preço pago em lesões e desgaste físico

O impacto de tantos jogos não se reflete apenas em estatísticas de partidas, mas também na saúde dos atletas. Um levantamento do Espião Estatístico, em conjunto com os departamentos médicos da Série A, revelou que seis dos nove clubes que ultrapassaram 70 jogos em 2024 estavam entre os que mais acumularam lesões. Os três primeiros colocados no ranking de contusões também faziam parte desse grupo de equipes mais ativas na temporada.

A conta é simples: mais jogos significam menos tempo de recuperação. Enquanto clubes europeus conseguem distribuir partidas com intervalos de cinco a sete dias, no Brasil os atletas chegam a atuar duas vezes por semana de forma contínua. Isso compromete o preparo físico, aumenta a fadiga muscular e reduz a performance em jogos decisivos. O torcedor que vê seu time cheio de desfalques em momentos cruciais é testemunha direta de como o calendário inflado prejudica o espetáculo.

Super Mundial de Clubes e o desequilíbrio momentâneo

O novo formato do Mundial de Clubes da FIFA, disputado entre junho e julho de 2025 nos Estados Unidos, adicionou uma camada extra de pressão. Com 32 equipes e formato semelhante ao de uma Copa do Mundo, o torneio exigiu calendário paralelo e sobrecarga para os participantes.

Naquele momento, o Fluminense foi o clube brasileiro que mais atuou na competição, somando 36 partidas na temporada até então, o que restringiu ainda mais o período de descanso em comparação a rivais que não participaram. Para quem ficou fora, houve tempo de treinar, ajustar elencos e recuperar atletas; para quem esteve dentro, a sequência foi desgastante. Três meses depois, ainda é possível perceber reflexos dessa maratona.

Iniciativas para aliviar a carga

A pressão por mudanças fez a CBF anunciar um novo calendário para o ciclo de 2026 a 2029. A promessa é de uma redução de até 12% no total de jogos, com a diminuição do número de fases da Copa do Brasil e o enxugamento dos Estaduais. A medida busca dar mais equilíbrio, ainda que não resolva o problema de forma definitiva.

O comparativo internacional ajuda a dimensionar a situação: um clube brasileiro pode jogar até 32% mais partidas do que gigantes europeus em uma mesma temporada. Não à toa, a FIFPRO, associação internacional dos jogadores, publicou recentemente um alerta sobre o risco de burnout, pedindo que entidades revejam a lógica de acumular competições em busca de mais receita.

Até quando é possível sustentar esse modelo?

O calendário cheio do futebol brasileiro é, ao mesmo tempo, reflexo da tradição cultural do país e de decisões comerciais tomadas nas últimas décadas. Torneios importantes foram sendo alongados, a lógica dos Estaduais se manteve e o apelo financeiro de grandes competições internacionais ganhou força. O resultado é um sistema que privilegia a quantidade de jogos em detrimento da qualidade do espetáculo.

A pressão por mudanças, contudo, vem crescendo. Clubes, atletas e até patrocinadores entendem que o excesso cobra seu preço — seja em lesões, queda de desempenho ou perda de interesse do público em partidas que se tornam menos atrativas. O futuro do futebol brasileiro depende de repensar esse modelo: reduzir o volume, valorizar cada competição e devolver ao torcedor um calendário mais equilibrado e saudável.

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