Minas Gerais pode se tornar referência nacional em moda sustentável

Minas Gerais caminha para assumir papel de destaque na moda sustentável no Brasil. O assunto foi debatido em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa (ALMG), que tratou do Projeto de Lei (PL) 2.378/2024, de autoria da deputada Beatriz Cerqueira (PT). A proposta institui uma política estadual voltada à moda circular, à redução de resíduos e ao estímulo à inovação verde em toda a cadeia produtiva do setor.

O texto, ainda em análise na Comissão de Constituição e Justiça, prevê incentivos fiscais, capacitação profissional e a criação de um selo de certificação para produtos têxteis sustentáveis fabricados no estado.

Durante a audiência, especialistas e profissionais destacaram o impacto ambiental da moda e a urgência de políticas públicas que combinem crescimento econômico e responsabilidade ambiental. A estilista Suzana Rabello lembrou que a moda é o segundo setor mais poluente do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera, e que o polo do Brás, em São Paulo, chega a gerar 45 toneladas de resíduos por dia.

A articuladora da Frente da Moda Mineira, Giovanna Penido, reforçou o potencial do estado: “Belo Horizonte já é reconhecida como capital da moda. Precisamos de políticas que conciliem lucratividade e sustentabilidade”, afirmou.

Na mesma linha, o profissional Rodrigo Cezário destacou que a moda responde por 10% das emissões globais de gases de efeito estufa e consome cerca de 79 bilhões de m³ de água por ano, reciclando menos de 1% do que produz. Para ele, Minas tem condições de liderar a “transição verde” da moda no país, desde que adote práticas como descarbonização e uso de matérias-primas sustentáveis.

A pesquisadora Caroline Campos da Silva, especialista em moda circular, ressaltou que a sustentabilidade precisa abranger também o aspecto social: “É essencial combater o trabalho infantil e as más condições de trabalho nas fábricas. O setor deve ser sustentável do início ao fim da cadeia produtiva.”

Empresárias do segmento também compartilharam experiências e desafios. Bharbara Renault, da Confecção Jardin, relatou que adota fibras naturais e design atemporal para evitar descarte de coleções, mas defendeu maior apoio público. Já Sâmara Merrighi, especialista em moda e sustentabilidade, destacou o papel dos brechós, que somam cerca de 1,2 mil unidades em Minas, como exemplo de moda acessível e de baixo impacto ambiental.

Representantes do ensino superior ressaltaram que a formação de novos profissionais é essencial para consolidar o setor. A professora Andreia Pagnan (Uemg) afirmou que a sustentabilidade já faz parte da grade dos cursos de moda, enquanto Angélica Adverse (UFMG) apresentou um projeto que reutiliza uniformes da Polícia Militar para confeccionar peças de alfaiataria. O Senac Minas também mantém cursos voltados à moda sustentável e ao empreendedorismo.

A superintendente de Resíduos da Semad, Alice Santana, avaliou que o projeto representa um passo importante na consolidação da economia circular no estado. Já a deputada Beatriz Cerqueira destacou a construção coletiva da proposta: “O diálogo com o setor é fundamental para fortalecer o debate e acelerar a tramitação do projeto”, afirmou.

*Com informações da ALMG