Mauricio de Sousa, pai da Turma da Mônica, tem sua história contada no cinema

Quando o diretor Pedro Vasconcelos se encontrou com Mauricio de Sousa para propor uma cinebiografia sobre um dos maiores quadrinistas do Brasil, criador da Turma da Mônica, ele frisou que as pessoas tinham conhecimento sobre o talento dele com o desenho. Mas eram poucas que realmente sabiam sobre sua história.

"Falei para ele que a motivação era justamente essa: o Brasil precisava conhecer a sua história. Estou feliz por estar dispondo para tanta gente a trajetória desse cara tão importante para o Brasil e para o mundo", salienta Vasconcelos, que está lançando o filme nesta quinta-feira (23), na semana anterior do aniversário de 90 anos do desenhista, que serão completados na segunda-feira.  

"Mauricio de Sousa - O Filme" aborda os primeiros 40 anos da trajetória do pai de Mônica e Cebolinha, desde a infância em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. É dessa época, por sinal, que brotaram muitas situações que, mais tarde, serviriam de inspiração para as tirinhas. O filme evidencia a importância da avó Dita no fomento da criatividade artística de Mauricio.

Para realizar o seu sonho, os primeiros anos não foram fáceis. A atividade não era regulamentada e o que cartunista ganhava nas redações de jornal mal dava para fechar as contas em casa. "Ele era aquele homem que pegava onibus e devia aluguel, como todo mundo. Ele foi batalhando para ir melhorando e lapidando seu talento e genialidade", destaca Vasconcelos.

Outro dificultador na carreira de Mauricio de Sousa foi quando teve as portas repentinamente fechadas após ver seu nome envolvido em questões sindicais. "O que mais me causou impacto na história dele foi ter sido cancelado por conta de uma fake news da época, no momento em que começava a se despontar em São Paulo", comenta o cineasta.

Esse episódio triste ganha outros contornos quando o desenhista resolve viajar pelo interior paulista, além de cidades de outros estados, para vender suas tirinhas. "Seria o fim de sua história se não a tivesse reconfigurar, depois de ouvir os conselhos da vó Dita. Ele pegou 183 barras de impressão de suas tirinhas e pôs numa mala, passando de cidade em cidade".

Para dar conta de um personagem tão singular das artes no país, só mesmo alguém que conviveu com ele diariamente: o filho Mauro Sousa. Além de ser ator profissional, ele é muito parecido com o pai, reproduzindo o mesmo sorriso característico. "A sensação de que tudo que passei na vida foi para que eu chegasse neste momento, para poder interpretar meu pai no cinema", registra.

O protagonista se sente recompensado por ter feito essa homenagem com o pai ainda vivo e poder ver o rosto de felicidade dele após a exibição do primeiro corte da montagem. "Foram lágrimas do começo ao fim. Ele apontava para mim e dava aquele sorrisinho. É muito bom vê-lo curtindo esse momento, de poder ver o filme que ele queria, leve, para toda a família".

Mauro, que define o pai como um patrimônio cultural do país, ressalta que o desenhista "sempre foi daquele jeito", ao falar da expressão feliz dele. "Com ele não tinha tempo ruim. Ele está sempre sorrindo, não importando o que tivesse acontecendo. É sempre um otimista, sempre está olhando para frente. Além de tudo, tem uma humildade absurda", sublinha.

Ter acesso fácil ao pai, durante o processo de filmagem, foi fundamental para a composição do personagem. "Gravamos durante dois meses e todo dia eu ligava para casa, perguntando-o de uma cena especial da vida dele. Ficávamos horas aprofundando sobre aquele aspecto. Foi muito gostoso poder conhecer ainda mais a história de meu pai", comemora.

Fonte: O Tempo