Coletiva sobre a operação reuniu autoridades na sede do Ministério Público de MG (Foto/Cler Santos/O TEMPO)
A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Gaeco, com apoio da Polícia Civil e do Gaeco do Amazonas, deflagraram nesta quarta-feira (24/9) a Operação Custos Fidelis, contra a organização criminosa Família Teófilo Otoni (FTO), ligada ao Comando Vermelho (CV). A ação cumpriu mais de 120 mandados em quatro estados, incluindo bloqueios bilionários e prisões.
“Há uma tentativa das organizações criminosas de tomar o território, e isso é algo que não permitimos em Minas Gerais”, afirmou a major Layla Brunnela, chefe do Centro de Jornalismo da PMMG. Segundo ela, a investigação começou após um conflito em Teófilo Otoni entre duas facções locais. “Dois integrantes da FTO executaram membros da facção Eucalipto. À medida que intensificamos a presença na cidade, vários criminosos desafiaram nossas guarnições, ameaçando nossos policiais militares. Quanto mais informações reuníamos, mais claro ficou que precisávamos de uma operação maior. Unimos forças para chegar ao que temos hoje", disse.
No total, a operação contou com 48 mandados de prisão, dos quais 16 foram cumpridos na quinta-feira (25/9), além de outros ainda em andamento. O saldo inclui 500 quilos de drogas apreendidos, mais de 40 alvos detidos, 26 armas retiradas de circulação e mandados cumpridos em 16 cidades. Também foram encontradas fardas da PM e da PC em posse de criminosos. “Eles usavam as fardas para cometer execuções”, explicou a major Layla.
Ofensiva militar em Minas Gerais
O vice-governador Mateus Simões reforçou a importância da ofensiva: “Hoje tivemos a etapa mais importante, mirando o núcleo financeiro, que é prioridade para o governo de Minas”. No entanto, ele criticou restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal, que dificultam a prisão de alguns autores no Rio de Janeiro. Para Simões, a mensagem da força policial mineira é clara: “Não permitiremos que o CV se instale em Minas. O monopólio da força continua sendo do Estado, e isso vai prevalecer”.
Na avaliação do procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Moraes Filho, a captura dos bens financeiros foi um dos pontos essenciais da operação. “Atingimos o coração do crime organizado em Minas Gerais. Essa ação não apenas desestrutura, mas atinge diretamente o núcleo financeiro. O estado precisa ser desocupado do crime organizado. Não vamos permitir isso. Pretendemos que esses recursos apreendidos sejam declarados perdidos e revertidos aos cofres públicos", afirmou.
Segundo o coordenador do Gaeco, Giovani Avelar Vieira, o trabalho “começou há cerca de um ano e meio. Eles recebiam valores e os pulverizavam em pequenos depósitos, prática conhecida como ‘smurfing’. Identificamos todo o esquema, o papel de cada integrante, e isso permitiu a realização da operação com sucesso”.
Vieira explicou que “os presos têm passagens por homicídio e lavagem de dinheiro. Alguns são líderes, outros ocupavam funções de gerência. Todos atuavam nas áreas administrativas da organização criminosa”.
O esquema criminoso movimentava bilhões. Foram expedidas 83 ordens de bloqueio, no valor de R$ 223,5 milhões, em contas bancárias e criptoativos, totalizando mais de R$ 18 bilhões. Houve ainda a apreensão de oito veículos e a indisponibilidade de um imóvel de luxo em Alagoas, avaliado em R$ 3,9 milhões.
As investigações mostraram que a FTO operava como “uma verdadeira empresa do crime”, com núcleos de logística, finanças e ataques armados. Segundo a promotora Ana Bárbara Canedo Oliveira, “o Comando Vermelho estruturou um verdadeiro serviço de atacado do tráfico, abastecendo facções em diversos estados. Empresas amazonenses de fachada funcionavam como hubs nacionais de aquisição de drogas, recebendo valores de Goiás, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo e Acre, e realizando evasões rápidas por meio de compras de criptoativos”.
Para a major Layla Brunnela, a mensagem é clara: “Uma das facetas do crime organizado é o domínio de territórios e comunidades. O nome da operação significa ‘guardião fiel’, justamente para lembrar que quem protege o território mineiro são as instituições públicas”.
Fonte: O Tempo