NA PAULISTA

Bolsonaro defende anistia, ataca STF e diz ter ‘esperança' de receber ajuda de fora

Ex-presidente falou em manifestação convocada para defender anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023; proposta está emperrada na Câmara

Renato Alves/O Tempo
Publicado em 07/04/2025 às 07:14
Compartilhar
O ex-presidente Jair Bolsonaro discursa para apoiadores na avenida Paulista, em São Paulo (Foto/AFP or licensors)

O ex-presidente Jair Bolsonaro discursa para apoiadores na avenida Paulista, em São Paulo (Foto/AFP or licensors)

Em discurso na avenida Paulista neste domingo (6 de abril), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-presidente reclamou ainda de estar inelegível por ter “se reunido com embaixadores”. Afirmou que eleição em 2026 “sem Jair Bolsonaro é negar a democracia, é escancarar a ditadura no Brasil”. “Se o voto é obra da democracia, a contagem pública do mesmo se faz necessária”, completou.

Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou Bolsonaro à inelegibilidade por oito anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, por causa de evento no Palácio do Alvorada em que acusou irregularidades no sistema eleitoral sem apresentar provas.

Na Paulista, o ex-presidente disse ter esperança de concorrer em 2026, principalmente em função de articulações do filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que em março se licenciou do mandato de deputado federal para morar nos Estados Unidos.

“Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá”, afirmou. Jair Bolsonaro ressaltou que Eduardo “tem contato com pessoas importantes do mundo todo e está lá nos Estado Unidos”, mas sem dar detalhes. 

No entanto, é sabido que Jair Bolsonaro aposta em um apoio do presidente norte-americano, Donald Trump, e de parlamentares republicanos, que já fizeram declarações contra o judiciário brasileiro.

No discurso na Paulista, Bolsonaro elogiou Trump e o presidente de El Salvador, Nayib Bukelee. Também citou a francesa Marine Le Pen, líder da ultradireita no país europeu e que ficará inelegível por cinco anos por decisão da Justiça local.

Bolsonaro ainda atacou Alexandre de Moraes, dizendo que o ministro do STF usa avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para assistir jogo de futebol, referindo-se à ida do magistrado a São Paulo para assistir à partida do Corinthians.

Bolsonaro volta a dizer que deixou o país para não ser preso

A mobilização foi convocada por Bolsonaro e aliados, incluindo o pastor Silas Malafaia, depois da realizada na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em março, que teve público aquém do esperado. 

Assim como havia dito na manifestação de Copacabana, Bolsonaro afirmou que teria sido preso se não tivesse saído do país em dezembro de 2022, dois dias antes do término do seu mandato, quando foi para os Estados Unidos.

O ex-presidente insinuou que o Judiciário brasileiro deu um golpe para beneficiar Lula nas eleições de 2022.

“Vamos falar quem deu golpe em outubro de 2022? Quem tirou Lula da cadeia? O cara condenado em três instâncias por corrupção, por lavagem de dinheiro, é tirado da cadeia. Quem descondenou o Lula para ele fugir da Ficha Limpa? Os mesmos”, disse.

“Quem deu golpe em 2022? Quem pesou a mão por ocasião das eleições? O golpe foi dado, tanto é que o candidato deles está lá”, afirmou Bolsonaro, sem dar nomes daqueles que teriam participado do conluio em benefício de Lula.

“O golpe deles só não foi perfeito porque no dia 30 de dezembro teria sido preso no Brasil e estaria apodrecendo na cadeia ou quem sabe assassinado por essas pessoas que botaram esse vagabundo na presidência”, afirmou Bolsonaro.

Ao mesmo tempo em que criticou o STF, que acusa de persegui-lo politicamente, o ex-presidente ressaltou a recente decisão da Corte de arquivar o inquérito sobre a fraude nos cartões de vacinação contra Covid-19.

Antes do ato na Paulista, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que Bolsonaro é um “fenômeno” e que ,apesar da inelegibilidade do ex-presidente, ele é o único candidato nas eleições de 2026.

“Queremos anistia. Vamos trabalhar para isso. É por isso que estamos fazendo esses encontros. Primeiro nós precisamos ver como é que fica a situação do Bolsonaro. Mas eu tenho certeza que o Bolsonaro vai ser candidato. Tenho certeza”, ressaltou.

Sóstenes diz que pressão sobre Motta aumentará

A anistia é prioridade para a oposição, mas o projeto de lei que trata sobre o tema está travado na Câmara dos Deputados. Caso seja aprovado, ele pode beneficiar o próprio Bolsonaro e integrantes do seu governo, denunciados por tentativa de golpe de Estado.

O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante, afirmou que a legenda espera ter, até a quarta-feira (9), as assinaturas necessárias para pautar o regime de urgência do projeto de lei da anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro.

“Com a ajuda (dos governadores) Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Wilson Lima esperamos ter as 257 assinaturas necessárias Aí, será pautado querendo ou não”, bradou Sóstenes em cima do trio elétrico.

A bancada do PL tenta pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a receber e colocar em votação um requerimento de urgência à proposta.  

No entanto, Motta não sinalizou publicamente qualquer disposição em levar o tema adiante. O presidente da Câmara teme que, caso acate o pleito da oposição, crie uma indisposição com o Palácio do Planalto e o STF. 

Conforme pesquisa Quaest divulgada neste domingo, 56% dos entrevistados defendem que os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro devem continuar presos por mais tempo cumprindo suas penas. Já 34% acham que eles nem deveriam ter sido presos ou já estão presos por tempo demais. 

O STF aceitou, no último dia 26, denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que acusa Bolsonaro de ter liderado organização criminosa envolvida em trama golpista. Além dele, outros sete aliados também se tornaram réus. 

Mais de 500 pessoas já foram condenadas pelo STF pelos atos de 8 janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas por pessoas que queriam derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

As penas variam de três a 17 anos de prisão pelos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público.

Batom vira símbolo por causa de cabeleireira

Na Paulista, manifestantes exibiam batons em diferentes espaços, como camisetas e cartazes, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou de batom uma estátua em frente ao STF e foi condenada a 14 anos de prisão por participar do movimento que pedia intervenção militar.

Em seu discurso, Michelle Bolsonaro chamou religiosos ao carro de som para dizer que todos ali defendem a anistia. Ela pegou um batom e disse que Débora Rodrigues é o “símbolo da luta pelo Brasil”.

“Hoje, a nossa Débora, uma mulher comum, cabeleireira, se torna símbolo da luta pela justiça no nosso Brasil”, afirmou a ex-primeira-dama. Ela pediu que as mulheres empunhassem seus batons e convidou ao trio a filha de uma presa do 8 de janeiro. 

“Luiz Fux, eu sei que o senhor é um juiz de carreira e o senhor não vai jogar o seu nome na lama. Nós temos aqui, a Adalgiza, de 64 anos, que está doente. Não deixa a Adalgiza morrer, Luiz Fux”, disse Michelle, se referindo ao ministro do STF, que já declarou no STF que as penas impostas poderiam ser revistas.

“Agora (Débora) está em prisão domiciliar graças a grande mobilização de vocês. Se um pichador pode cumprir pena de três meses em liberdade, por quê tanta maldade e crueldade com essa mulher?”, questionou a ex-primeira-dama.

Débora foi condenada por abolição violenta do Estado democrático de direito (com pena de 4 anos e 6 meses de reclusão); golpe de Estado (5 anos); dano qualificado, com violência à pessoa ou grave ameaça, ao patrimônio da União, por motivo egoístico ou prejuízo considerável para a vítima (1 ano e 6 meses de detenção e multa); deterioração do patrimônio tombado (1 ano e 6 meses e multa); e associação criminosa armada (1 ano e 6 meses). Ela ainda foi acusada  pela Procuradoria-Geral da República de apagar provas, obstruindo o trabalho de investigadores e da Justiça.

Em cima do trio, Michelle também chamou três dos filhos de Jair Bolsonaro, o senador Flávio e os vereadores Carlos e Jair Renan, para abraçar o pai no palco. 

Ela falou do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que se licenciou da Câmara e anunciou um autoexílio nos Estados Unidos em março. “Força, Eduardo”, disse Michelle.

“Não iremos desistir. Nosso Deus levantou Jair Messias Bolsonaro para cuidar da nossa nação. Esse homem foi escolhido não porque tem projeto de poder, mas porque tem projeto de prosperidade para nossa nação”, disse.

Tarcísio diz que condenados pelo 8 de janeiro só ‘estavam conhecendo Brasília’

Ao todo, 10 pessoas foram escaladas para discursar. Entre elas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que citou a alta dos preços de alimentos para defender a volta de Bolsonaro à Presidência da República. 

Tarcísio disse ainda que a anistia é uma “pauta política, humanitária e urgente” e serviria para “pacificar” o país. “Pedir anistia não é uma heresia, é algo justo, real e importante”, afirmou.

“Temos urgência porque precisamos pacificar o Brasil. Olhar para frente e discutir o que interessa. Estamos perdendo o bonde. Temos que pensar no nosso crescimento. Por que a inflação está tão cara? Por que vocês estão pagando caro no ovo? E se está tudo caro, volta Bolsonaro”.

O governador alegou que os condenados pelos atos de 8 de janeiro são “pessoas que estavam vendo o que acontecia, conhecendo Brasília” na data em que houve a invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes. 

No fim do discurso, Tarcísio se dirigiu diretamente a Bolsonaro: “O senhor faz falta e a injustiça não vai prevalecer. Tenho certeza que o senhor vai voltar para trazer esperança para estas pessoas”. Em seguida, pediu o coro “volta, Bolsonaro”.

Também participam do ato na Paulista os governadores Romeu Zema (Minas Gerais), Jorginho Mello (Santa Catarina), Ratinho Júnior (Paraná), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso) e Wilson Lima (Amazonas). 

Tarcisio, Zema, Jorginho e Ratinho são cotados como nomes da direita para a disputa ao Planalto em 2026. Caiado se lançou pré-candidato na última sexta (4). Mesmo inelegível até 2030, Bolsonaro ainda se coloca na corrida.

Caiado condena atos de 8 de janeiro, mas diz que penas são altas
Pouco antes do início dos discursos na Paulista, Ronaldo Caiado afirmou que os atos de 8 de janeiro são indefensáveis, mas que as penas aplicadas aos participantes são pesadas demais. 

“O sentimento é nacional, de promover anistia a essas pessoas que praticaram, sim, aquela prática indefensável no dia 8 de janeiro, mas que não merecem também a pena na proporção que está sendo dada. É isso que estamos buscando: justiça”, disse.

Já Cláudio Castro cancelou a participação no ato em São Paulo por causa das chuvas fortes no Rio. “Eu já estava programado, mas por causa de todo o acontecido no Rio, não tenho como sair nesse momento”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais.

Nikolas chama Moraes de ditador e covarde

Já o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que também subiu no trio elétrico onde estavam Jair Bolsonaro e outros políticos, criticou o STF e chamou os ministros de “ditadores de toga”.

“Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, que se utilizaram do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou, olha a gente aqui. Essa é a resposta para você, seu covarde”, afirmou.

“E digo mais, fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política deste país, que é o Bolsonaro. Digo e repito: se lascou!”, prosseguiu o parlamentar.

Depois, o deputado mineiro criticou o presidente da Suprema Corte, Luís Roberto Barroso.

“Para o debochado do ministro Barroso, que falou 'perdeu, mané', primeiro, que isso é fala de bandido quando vai roubar alguém, O que você está querendo dizer com isso Barroso? Que as eleições de 2022 nós fomos assaltados? Porque, se for isso, fique em paz, que daqui um ano e meio tem eleições de novo”.

Ato na Paulista reuniu quase 45 mil pessoas, segundo a USP

O ato na Paulista reuniu cerca de 44,8 mil pessoas, conforme estimativa do Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). O levantamento é feito a partir de fotos aéreas do momento de pico da manifestação, durante o discurso de Bolsonaro, que começou às 15h44 e durou 25 minutos.

Em fevereiro do ano passado, quando Bolsonaro também foi à Paulista pedir anistia aos presos do 8 de Janeiro, ele reuniu cerca de 185 mil manifestantes, conforme a mesma contagem da USP. Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) estimou 600 mil pessoas presentes. Neste ano, tanto a Secretaria como a Polícia Militar informaram que não haverá estimativa de público.

Em setembro do ano passado, pedindo o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro pôs na Paulista cerca de 45 mil pessoas, um quarto da manifestação anterior, de fevereiro. 

Fonte: O Tempo

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por

Utilizamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com essas condições.