Ex-candidato à Presidência em 2018 e um dos cabeças-chefe do partido Novo no Brasil, João Amoêdo não deve deixar saudades em Minas, onde a legenda tem a maior representação no Brasil. O empresário chegou a ser considerado “persona non grata” por lideranças da legenda, e o vice-governador eleitor, Mateus Simões (Novo), classificou a atuação recente do político como uma “liderança corroída”.
“(Amoêdo) Cumpriu um papel importante ao fundar o partido e ser nosso primeiro candidato à Presidência”, mas “a tentativa contínua de colocar sua opinião publicamente a respeito de cada pauta, abrindo o debate público sobre cada posição de discordância com os mandatários do partido ou a direção nacional fez com que a liderança interna dele fosse corroída”, analisou Simões.
De acordo com lideranças do partido em Minas, o movimento que Amoêdo fizera em apoio ao presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) e ao tucano João Doria (PSDB) foram entendidos como traições às diretrizes liberais da legenda. “O ódio dele ao Bolsonaro foi maior do que o amor à liberdade”, ponderou um integrante da sigla, que pediu anonimato.
“A saída acabou sendo um caminho natural, lamento que tenha optado por um caminho tão longo e conflituoso, ao custo de filiados e energia que deveriam estar dedicados a continuar a transformação da política. Mas a decisão foi a melhor para ele, que agora está livre para manifestar suas opiniões sem nossas críticas, e para o Novo, que permanece como a plataforma política da inovação liberal no Brasil”, completou.
Para outro integrante do partido, Amoêdo 'atrapalhou' o projeto do Novo no Estado. “Ele só antecipou (desfiliação), mas seria expulso. Atrapalhou muito o projeto de Minas Gerais. Uma série de pessoas do interior não saíram pelo Novo (nas eleições) por terem sido impossibilitadas pelo Amoêdo. Teríamos muito mais vereadores, quiçá, prefeitos e deputados”, afirmou.
“Amoêdo começou até a ir contra o liberalismo do partido. Onde já se viu apoiar lockdown, as atitudes abusivas do Supremo Tribunal Federa [STF]. Por quê? Porque o STF em geral está em contra o Bolsonaro. Então, assim o ódio dele pelo Bolsonaro foi maior do que o liberalismo”, completou.
Tensão, acusações e mal-estar no Novo
Amoêdo anunciou na última sexta (25) sua desfiliação da legenda após divergências com a direção atual. Ele alegou que o Novo foi “desfigurado” e acusou a sigla de descumprir o próprio estatuto. “O partido, mesmo com o péssimo desempenho eleitoral, com a perda de milhares de filiados, a saída de inúmeros dirigentes, não esboça qualquer sinal de retomar o caminho original. Ao contrário, a direção da instituição prefere ignorar as evidências, busca silenciar as vozes divergentes, transfere responsabilidades e segue prometendo que ‘agora será diferente’”, publicou nas redes sociais.
Desfiliação
Amoêdo foi um dos fundadores do Novo e, em 2020, deixou o comando do partido após divergências com caciques do partido se intensificarem. A ruptura definitiva ocorreu quando, no segundo turno das eleições deste ano, ele ter declarado publicamente apoio a Lula na corrida presidencial contra Jair Bolsonaro (PL).
Em nota publicada no dia do anúncio da desfiliação, o Novo afirmou que "respeita a trajetória de João Amoêdo e sua participação na história da sigla, mas lamenta profundamente tais declarações graves e infundadas (que ele teria feito)”. “Infelizmente, por atitudes e palavras como essas, ele se afastou cada vez mais dos princípios, das ideias e das pessoas do partido. O Novo é um partido político democrático e sem dono”, diz trecho do texto.
Fonte: OTEMPO