Assistir à mais recente e polêmica propaganda da Volkswagen, na TV, transportou-me para lembranças da primeira vez que, de fato, eu morei sozinho na minha vida. Sem pai, sem mãe. Somente eu. “Você pode até dizer que eu estou por fora. Ou, então, que eu estou inventando”. Mas, verdadeiramente, na minha vida toda, isso nunca aconteceu. Foi aquele momento que eu (achava que) dava adeus aos meus pais. Para sempre, talvez. Que eu viveria a vida, como eu quisesse. Não como os meus, os seus, como os nossos pais. Eu estava tão enganado sobre isso. Mas o sábio Belchior e Elis Regina, sua intérprete mais famosa, não, eles já sabiam. Nós somos, mesmo, como os nossos pais. Foi lá atrás, quando comecei a organizar a minha, então, nova casa, que eu percebi que repetia as mesmas manias: não encher completamente os vasilhames de mantimentos; seguir a mesma ordem de organização do faqueiro, tipo colher, garfo, faca; secar a pia mil vezes após lavar a louça; conferir o botijão de gás antes de sair de casa; fazer inúmeras anotações e criar um quadro de avisos; rodar a chave na fechadura até o “infinito e além” e mais uma lista desses “transtornos obsessivos compulsivos” necessários do cotidiano (ao menos para eles, e naquele momento, para mim também). Eu estava em pânico quando percebi que não tinha me transformado nos meus pais... porque eu sempre fui como eles. E isso acontece até hoje. São palavras, expressões, histórias e conselhos que saem da minha boca, ações que movem meu corpo, comportamentos que moldam meu jeito de ser, mas que não são tão meus assim. Hoje, eu paro e penso: será que, no futuro, os meus filhos (apesar de ter feito tudo, tudo, tudo o que fiz) ainda serão como eu ou como os meus pais?! Depois de quase nove anos “morando sozinho”, eu voltei à casa dos meus pais, em Uberaba, minha cidade natal. Sem dúvida, agora, mais do que nunca, com e como eles.
Vinícius Silva
Uberabense, jornalista e um apaixonado pela arte de ouvir e contar histórias
@mealugoparaouvirhistorias