Neste dezembro, adotei uma daquelas tradicionais cartinhas de Natal. Pela primeira vez, serei um Papai Noel para Elise, uma criança que estuda no Centro de Educação Infantil Marta Carneiro, no bairro Gameleira II, em Uberaba. Exigente, ela pediu ao “Bom Velhinho” dois presentes: uma Barbie e um unicórnio. Isso mesmo. Elise não quer uma boneca. Elise quer uma Barbie. E não vamos esquecer: um unicórnio também. Passei, então, um dia inteiro atrás do tal bicho, que, ainda bem, não tinha uma especificação assim tão clara como a da boneca mais famosa do mundo. Quando cheguei em casa, outra cartinha me esperava. Essa, de surpresa, estava na caixa de correspondências, e tenho para mim que não fui o único destinatário. Percebi que também não tinha apenas um remetente. Quando abri o envelope, nada tinha ali dentro. Do lado de fora, a frase “Que a magia do Natal transforme seus sonhos em realidade” foi, de cara, o que me inspirou a escrever essa crônica. Entendi, nesse momento, que era eu quem deveria depositar algo naquele envelope, de preferência, que pudesse contribuir com a realização dos sonhos de alguém. De novo, eu pensei em Elise e me lembrei que, quando eu tinha a idade dela, o meu maior sonho era ter exatamente a profissão daqueles que me enviaram a tal carta em branco. Na minha infância, as pessoas ficavam espantadas quando ouviam aquilo sair da minha boca, algumas davam até gargalhadas. Era incomum, de fato. Mas eu não me importava. Eu contava as horas e os dias para encontrá-los trabalhando na minha rua. Era emocionante toda aquela velocidade, aqueles saltos quase acrobáticos, que paravam o trânsito. Ninguém conseguia entender minha euforia quando eu escutava o barulho daquele motor e corria para a grade do portão para acenar a todos. Não podia me conter e, naquela altura, eu já até sabia os nomes de alguns deles. Eles faziam questão de parar e tocar a minha mão com um aperto. Ganhava o meu dia ali. Lembro-me de uma vez que deixaram eu fazer um arremesso e até puxar aquela alavanca. “Que mira boa, garoto”, disse um deles. Eu me sentia pronto. Mas não aconteceu. Cresci e meus interesses profissionais foram se transformando. Então, essa é a oportunidade que encontrei de escrever sobre e para a minha criança, aquela lá dos anos 90, que ainda existe e resiste dentro de mim: “Vinícius, sonhos vêm e vão. Muitos vão se tornar realidade, como o sonho da Barbie ‘própria’ de Elise. Outros vão, para sempre, permanecer apenas sonhos. E terão aqueles que serão realizados por Papais Noéis ao longo da vida. Não deixe nunca de acreditar”. Encerro este texto enviando uma cópia, dentro do envelope, que recebi em casa, junto com alguns reais, porque os dizeres são bem claros: “entregue sua contribuição somente na presença do caminhão, iremos recolher a partir do dia 13 de dezembro”. Bom, sendo assim, eu já me programei. Como antigamente, estarei na grade do meu portão e prometo acenar quando eu os ver se aproximando. Lá estarão eles para um saudoso aperto de mão. Mais do que aquela euforia de criança, talvez eu viva, agora, uma emoção diferente: a de vinte e cinco anos depois ser um dos Papais Noéis, com a minha “caixinha”, para Edmar, João Victor, Patrick, Ítalo e Caio, atuais motorista e coletores de lixo da região do meu bairro. Para você, que esteve aqui até agora, meu desejo é que a magia do Natal possa transformar também seus sonhos (de criança) em realidade. Nunca deixe de acreditar!
Vinícius Silva
Uberabense, jornalista e um apaixonado pela arte de ouvir e contar histórias
@mealugoparaouvirhistorias